Trema ou não… de emoção. Brincadeiras à parte, as mudanças projetadas para alterar a língua portuguesa e unificar a forma de comunicação vigente em nações que herdaram uma das mais belas línguas do mundo de navegadores lusos como Pedro Álvares Cabral, Vasco da Gama e outros que nelas se estabeleceram e fincaram a bandeira daquela pequena e venturosa nação europeia entram em vigência oficialmente no Brasil em 2016.
O fim do uso do trema em palavras como linguiça ou cinquenta, por exemplo, anteriormente grafadas como lingüiça e cinqüenta, é apenas uma dentre um grupo de alterações que desde 2012 já estão no cotidiano das pessoas, causando estranhamento entre alguns, acostumados ao uso de certos padrões que a partir de agora estão enterrados para sempre (a não ser que outra mudança venha a acontecer, o que é pouco provável).
Para as novas gerações as alterações não causaram estranhamento. Para muitos outros, independentemente da faixa etária, acaba sendo um alívio não ter que se preocupar com acentos agudos, circunflexos, tremas e outras estruturas da gramática regulares até o advento do novo acordo ortográfico.
Além do Trema, podem ser destacadas mudanças como:
- – O hífen, utilizado para separar expressões em que o “não” se fazia presente, deixa de ser utilizado. Por exemplo: Esta é a ala para não fumantes; Ele trabalha numa organização não governamental. Anteriormente a grafia destas expressões seria não-fumantes ou não-governamental.
- – O hífen deixa também de ser usado em expressões compostas, com três palavras, nas quais este elemento estipulava interconexão e separação entre os vocábulos. Por exemplo: A mão de obra para esta reforma foi trazida do interior do estado; O dia a dia das escolas é marcado por algumas ocorrências disciplinares. Até pouco tempo atrás se escreveria mão-de-obra ou dia-a-dia.
- – O uso ou não do hífen em palavras compostas, como micro-ondas, anti-horário, antivírus ou infraestrutura, se regula a partir da seguinte premissa: se a segunda palavra da expressão composta começar com a letra “h” ou com vogal semelhante a última da primeira palavra, o uso do hífen deve acontecer. Em qualquer outra situação, o uso não deve ocorrer.
- – O hífen também deixa de ser utilizado em caso de palavras compostas em que a segunda palavra começa com “s” ou “r”. Nestes casos a letra inicial do segundo vocábulo incorporado é dobrada. Por exemplo: Mini-saia passa a ser grafada como minissaia. Auto-retrato sai de cena e será substituído por Autorretrato.
- – O uso do prefixo “co” também dispensa, a partir da reforma, o uso do hífen. Em casos como cofundador, coprodução, por exemplo; Nas palavras começadas com “r” ou “s” há também a necessidade de se dobrar esta letra na ligação com “co”, como por exemplo, em corresponsável.
- – Deixa de acontecer o uso do acento circunflexo ou agudo em palavras (verbos ou substantivos) com uso de dupla vogal, como voo, enjoo, leem ou creem.
- – O uso de acentuação para diferenciar palavras homônimas cuja entonação e sonoridade são diferentes deixa de existir. É o caso de vocábulos (entre outros) como “para” (anteriormente tínhamos a preposição “para”, já sem acento, e o verbo já conjugado “pára”); o substantivo “pelo” (que também é preposição e nesta forma e uso não tinha acentuação enquanto o substantivo contava com acento circunflexo na letra “e”). Há exceções para esta regra, como é o caso dos verbos por, poder, ter e vir, que flexionados mantém os acentos (pôr; pôde no passado e pode no presente; vêm e têm, assim acentuados na terceira pessoal do plural no tempo presente do indicativo).
- – Caiu também o uso do acento agudo em palavras paroxítonas que tem em sua formação ditongos abertos “ei” e “oi”, como é o caso de vocábulos como “joia”, “ideia”, “assembleia”…
- – Passa, igualmente, a estar em desuso a partir da reforma ortográfica o acento agudo nas vogais tônicas de ditongos decrescentes como feiura ou bocaiuva.
Há mais alterações realizadas. No entanto, vale considerar que o propósito geral desta reforma ortográfica, além de reunir países e povos em que a língua portuguesa é a oficial e predominante para a maioria da população, há também a simplificação que visa facilitar o uso, principalmente na escrita, percebido tanto em questões de acentuação quanto no uso dos hiatos e do trema.
Confusões quanto ao uso de palavras não acentuadas equivalentes a homônimos irão ocorrer, eventualmente, como no caso de expressões nas quais tenhamos o verbo e a preposição “para”, por exemplo.
Numa sentença em que estivermos dizendo “Marisa para a escola todas as manhãs”, o interlocutor pode pensar que estamos falando da ida (ainda que o verbo não esteja na frase) de Marisa para a escola, assumindo o vocábulo “para” como preposição; ou ler a frase no sentido literal, aquele que realmente queremos dar, ou seja, de que Marisa paralisa as atividades da escola a cada manhã.
De qualquer modo, o que há de se entender é que as alterações foram colocadas em uso de forma oficial e que, assim sendo, é preciso que sejam informadas, ensinadas e trabalhadas no currículo escolar de forma regular, consequente, contextualizada e o mais brevemente possível para evitar que erros associados a forma anteriormente utilizada no país e aprendida nas escolas sejam cometidos.