Criança com maça na mão

“Meu filho não come brócolis, vagem ou cenoura.”

“Ele não gosta de verduras.”

“Frutas não fazem parte do dia a dia da minha filha porque ela rejeita sempre que eu ofereço.”

São muito comuns afirmações como estas proferidas por pais e mães de alunos das escolas onde trabalhamos. É certo que essa realidade, inclusive, também acontece na própria casa dos educadores, com seus próprios filhos.

Especialistas em nutrição já constataram que é nos primeiros anos de vida que se definem os modelos alimentares que irão nortear o consumo de uma pessoa ao longo de uma vida. Isso não quer dizer, é claro, que modificações não são passíveis de ocorrer na medida em que o indivíduo cresce e atinge outras etapas de seu desenvolvimento. O que eles afirmam, categoricamente, é que o paladar tem suas bases formadas nos primeiros anos.

Por conta disso é de fundamental importância que neste período sejam oferecidos primeiramente os alimentos saudáveis. É primordial, por exemplo, que o leite materno, alimentação que deve ocorrer por no mínimo 6 meses entre os recém-nascidos, ao ser substituído por sucos e, posteriormente, por papinhas, ocorra com a utilização de produtos naturais e não processados e industrializados.

Nesta migração, caso se adotem alimentos processados pela indústria, já se adicionam aditivos e conservantes que interferem no sabor, criando uma sensação e uma reação que estimula o cérebro a acomodar o usuário naquele tipo de produto entregue, ou seja, formatando os sensores neurais para que a preferência destas crianças recaia sobre os alimentos modificados pela ação da química neles inseridos.

Alega-se entre as famílias, que o tempo, produto cada vez mais escasso por conta das jornadas de trabalho fora de casa tanto do pai quanto da mãe, não permite o preparo de papinhas, sucos e outros alimentos naturais a serem oferecidos para as crianças de 0 a 5 anos de idade.

Há, é claro, este empecilho que é adicionado ao comodismo de adquirir nos supermercados os produtos já prontos e embalados pelos fabricantes. Quando chegam a idade escolar, ingressando na faixa dos 2 aos 5 anos na Educação Infantil, é comum vermos as crianças consumindo sucos processados, onde além dos conservantes e demais aditivos químicos há açúcar em excesso, salgadinhos embalados como batatas fritas, pães industrializados que duram semanas por conta de todos os produtos a eles misturados, bolos e bolachas doces ou salgados que igualmente abusam destes ingredientes…

Eventualmente há uma maçã, banana ou pera na lancheira da criança. É bastante comum que este item “sobre” ao final do dia de aula e retorne para casa.

Neste sentido é importantíssimo que a escola seja uma aliada da família na educação alimentar. Não somente como instituição que orienta ou mesmo que oferece em sua cantina os alimentos saudáveis que deveriam estar sendo ingeridos pelas crianças.

A educação alimentar que deve começar em casa deve ocorrer também na escola já na educação infantil. Isso deve proceder de modo a fazer parte do ideário ou filosofia da escola, como princípio norteador, que é apresentado aos pais quando fazem a matrícula na instituição.

Educar na escola para uma alimentação saudável passa por um trabalho também com a família. Neste sentido o acompanhamento semanal dos cardápios escolares por especialistas em nutrição, com algum gastrônomo a orientar a compra e confecção dos alimentos a serem oferecidos nos intervalos precisaria se tornar uma prática comum nas escolas.

Estes profissionais, além desta lida diária, precisariam apresentar palestras e formações regulares para pais ou responsáveis, professores, gestores, funcionários da escola e alunos de todos os segmentos atendidos.

Por meio desta formação, por exemplo, os pais de crianças na Educação Infantil seriam orientados quanto a ações rápidas e simples que lhes permitam ter em mãos alimentos naturais para oferecer aos filhos. As técnicas, procedimentos, o manejo, a higiene, a conservação dos alimentos e outras ações e saberes seriam trabalhados regularmente, criando-se assim uma cultura alimentar que privilegie os alimentos saudáveis.

Não se quer, com tal ação, isolar os produtos processados ou evitar que se consumam alimentos vendidos em massa nas praças de alimentação ou em estabelecimentos populares em todo o mundo. Este contato e consumo irá ocorrer, é claro, não se persegue o radicalismo que coloque as crianças e adolescentes em bolhas hermeticamente fechadas a lhes granjear acesso somente a alimentos saudáveis.

Educar o paladar e oferecer frutas, verduras, legumes, cereais e demais alimentos que não são consumidos regularmente visa construir uma vida saudável em que este tipo de produto prevaleça em relação aos processados o que inverte a lógica e a dinâmica que imperam hoje entre todos.

Para os alunos, além do acompanhamento de especialistas, a confecção de cardápios saudáveis a serem oferecidos na escola ou sugeridos para as famílias e o trabalho realizado com seus pais, é preciso adotar ações como o contato com os alimentos, seus cheiros e sabores, o trabalho em hortas nas dependências educacionais, aulas na cozinha que misturem preparo e os saberes das áreas de conhecimentos específicas (matemática, português, ciências…), conversas com outros profissionais que lidam com alimentos (de produtores agrícolas, passando por feirantes, chefs, vigilância sanitária e até mesmo profissionais que atuam em processamento de alimentos)…

Conhecer o alimento desde seus elementos, possibilidades e potenciais, passando pelos processos de obtenção, distribuição, higienização e formas de consumo são passos pouco trabalhados pelas escolas que, certamente, precisam acontecer para que a cultura da alimentação saudável ocorra regularmente no país. E bom apetite para todos!

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