Recentemente, eu vi um desabafo num dos grupos que pertenço onde um dos membros, que é professor de inglês, expressa toda sua insatisfação (com razão) com o ensino de língua inglesa nas escolas. Resumindo o que estava escrito no post, ele questiona a postura das escolas que alegam para os pais que oferecem ensino de inglês de qualidade, que são referências no mercado, mas no ranking mundial a gente nunca sai da embaraçosa 78a. Posição.
Um dos motivos que perpetua esse desempenho pífio em língua inglesa em nosso país é a constante falta de interesse das escolas (particulares) em capacitar de fato seus professores de línguas. Muitos agora irão esbravejar e dizer “minha escola não faz parte disso! Na minha escola a gente oferece treinamentos aos professores, sim!”. Pois então vamos lá. Geralmente, as escolas particulares oferecem momentos de workshops em janeiro aproveitando que as aulas não reiniciaram e os professores têm maior disponibilidade. Um primeiro problema nesse sistema adotado é que workshops são muito superficiais e acabam não oferecendo momentos de discussão mais profunda sobre como atacar as dificuldades encontradas em sala de aula no processo de aquisição de língua estrangeira ou de como abordar conteúdos linguísticos que favoreçam o processo. Workshops são muito importantes, claro, mas eles são muito mais eficazes quando se tratam de assuntos que os professores já têm domínio para se fazer um ajuste pontual.
Outro obstáculo encontrado no processo de alavancagem do país em performance de inglês é o comportamento de alguns colegas professores. Instituições mundialmente reconhecidas como o Edutopia frequentemente nos relembram da importância do teachers development, falando sobre como a qualidade do ensino aumenta em função da participação de professores em cursos de capacitação. Infelizmente, em somente alguns centros (geralmente em São Paulo, capital) que os professores adotaram a consciência de que procurar cursos, compartilhar informações, se capacitar não é demérito. O ensino de línguas também é uma ciência e não podemos mais trabalhar no achismo ou entrar em sala de aulas suportados somente pela experiência de décadas trabalhando com ensino de língua inglesa. Temos a Neurociência muito avançada que nos oferece material muito rico sobre aprendizado, sobre como um assessment interfere na retenção e no acesso a informação que foi recém ensinada. A Linguística que nos informa como a língua estrangeira se desenvolve, como aspectos cognitivos e sociais trabalham nesse processo além de contribuir com dados sobre variações linguísticas e como levá-las em consideração.
Tecnologia. Um quesito que mudou completamente nos últimos 10 anos e a cada semestre, novas ideias e ferramentas educacionais surgem para que os alunos sejam capazes de realizar um trabalho que antes não conseguiam. Ou seja, usar um PowerPoint, um Prezi não é usar tecnologia de maneira ativa. Portanto, precisamos de cursos que nos mostrem como otimizar a aplicação desses recursos em nossas aulas. A Pedagogia também tem muitos estudos que mostra abordagens que encorajam, por exemplo, a tentativa de comunicação no idioma alvo, que nas aulas de inglês dificilmente acontece de maneira espontânea quando não estão fazendo uma atividade ou sob o olhar dos professores. Além disso, ela conta com pesquisas e profissionais que mostram como o ambiente pode ser um aliado no processo aquisitivo. São alguns exemplos de como o trabalho de professor de língua inglesa não pode mais ser baseado somente em experiências e também precisamos entender que por mais cursos e certificados que a gente obtenha, por melhor e mais famosa que seja a escola em que trabalhamos, a gente nunca sabe de tudo.
Por esse motivo que instituições muito competentes como o Instituto Singularidades, o São Paulo Open Centre e algumas menores como a Teach-in-Education e a Mattiello Consultoria (no interior de SP) têm investido em trazer profissionais da educação, mais precisamente de ensino de línguas, que enriquecem e qualificam cada vez mais esse trabalho. Nosso trabalho. Afinal, não é possível que alguém se sinta completamente satisfeito com o trabalho desempenhado a ponto de achar que atingiu o topo da carreira profissional que não precisa mais se informar sobre o que acontece dentro da área de atuação. Ainda mais em nossa área que é extremamente dinâmica, envolve pessoas e inúmeros outros fatores complexos. Isso serve também para os professores de cidades menores em que o mercado ainda não exige um comportamento de busca pela capacitação. É sabido por todos que o momento financeiro dos profissionais como um todo não anda mil maravilhas, mas esse cenário não vai mudar se a gente depender somente da boa vontade dos empregadores (diretores, mantenedores) de aumentar benefícios e salários ou atribuir mais aulas. Investimento na carreira é fundamental para que nossas aulas sejam melhores e para que a valorização (salarial) aconteça, o que é um mindset muito comum do mundo corporativo, mas que ainda resiste no mundo educacional.
Com relação às escolas públicas, todos sabemos da precariedade no quesito investimento, embora existam alguns programas suportados por algumas secretarias de alguns estados que busca capacitar professores, mas infelizmente o foco, para professores de inglês da rede pública, tem sido a oferta de cursos de inglês para melhoria da língua de alguns professores. Claro que é um grande passo, mas eles precisam de mais. Os professores precisam ter acesso aos cursos que as instituições anteriormente citadas oferecem e caso as secretarias ou diretorias de ensino não tenham orçamento para tal, cabe então aos professores se engajarem por esse desejo de mudança. Os garotos da rede pública de ensino merecem a mesma qualidade de professores que os alunos de escolas particulares e se os professores de inglês tiverem a mesma sede e interesse por capacitações que seus colegas, um grande passo para o aumento da qualidade do ensino de línguas será dado.
Contudo, precisamos mudar nossa maneira de olhar para a capacitação dos professores de língua inglesa. Nós somos os responsáveis direto pela motivação, ou não, dos alunos perante essa matéria e se fizermos a mesma coisa que fazemos agora, por mais que venha dando certo, uma hora vai parar de funcionar e precisamos ter todas as informações possíveis para que saibamos extrair o melhor de nossos alunos. As opções estão aí. E você, vai sair do status quo?