Alice Howland (Julianne Moore) parada com um olhar fixo em algo

Saúde e doença, separadas por linhas tênues… Num momento estamos bem, nos sentido fortes, capazes, com energia suficiente para tantas realizações…

Algumas horas depois, por algum motivo, começamos a sentir dor, desconforto, incômodo que esperamos ser passageiro mas que, no entanto, teima em continuar por ali, a persistir… Vem a febre, algum sintoma específico como uma dor de cabeça ou de garganta, a necessidade de parar tudo e, literalmente, se encolher numa cama, com alguém a nos dedicar cuidados, tomando algum remédio que possa nos recuperar para amanhã…

Se temos uma gripe, um resfriado, uma faringite ou algo do gênero… Se somos acometidos por alguma infecção alimentar, com vômitos e diarreia… Se nos acidentamos e precisamos de alguma intervenção imediata, como um gesso ou uma tala… Em qualquer dos casos mais comuns na vida de qualquer pessoa, vamos ao médico, buscamos o tratamento adequado, consolidamos de diferentes maneiras os cuidados necessários para que em alguns dias ou horas possamos nos recuperar para os desafios que teremos pela frente nos próximos dias, semanas e anos…

Quando somos acometidos de alguma doença mais séria, de ordem física ou psíquica, que altera completamente os rumos de nossas vidas, por outro lado, a sensação de que tudo pode ficar bem entre hoje e amanhã se esvai… Queremos que seja assim, rezamos para que seja assim, mas a vida se altera de forma considerável… Enfermidades graves como o câncer, diferentes síndromes, Parkinson, Alzheimer, aneurismas, diabetes, aids – entre outras – modificam completamente o rumo da existência humana.

Há aqueles que, infelizmente, capitulam, se entregam e que, com isso, cedem espaço para a doença se proliferar, ganhar terreno e determinar prazo de vida curto. Outros resistem bravamente, buscam tratamentos médicos sofisticados, alternativos ou ambos, para que vivam o quanto for possível. Em todos os casos há os familiares e amigos devotados, preocupados, participativos, ali ao lado a oferecer toda a ajuda possível. O pior cenário é a solidão, o abandono, o descaso, em especial quando as pessoas já estão mais velhas, idosas, com idade avançada. A falta de recursos para tratamentos ou ainda a não existência de medicamentos e técnicas que realmente solucionem o problema tornam também bastante dolorosa a situação dos enfermos.

O mal ou doença de Alzheimer, tema do filme “Para sempre Alice”, enfermidade que atinge 1 em cada 10 pessoas com 65 anos ou mais e que, após os 85 anos acomete 25% dos idosos, provoca a perda progressiva de memória por afetar as funções cerebrais, podendo causar dificuldades de linguagem, de raciocínio e da própria possibilidade da pessoa doente cuidar de si mesma. O nome da doença se relaciona ao neurologista alemão Alois Alzheimer, pioneiro na pesquisa e diagnóstico desta enfermidade, que produziu obras baseadas em estudos realizados nas primeiras décadas do século XX que resultaram em 6 volumes organizados e publicados como Estudos histológicos e histopatológicos do córtex cerebral.

Ao assistir “Para sempre Alice” somos colocados em contato com uma história que pode acontecer com qualquer um de nós, que neste momento está acontecendo no apartamento vizinho ou com algum parente idoso de seu colega de trabalho. Quando a ficção nos permite entrar em contato, como no caso desta produção fílmica, com uma situação tão delicada, que altera a vida do enfermo e de todos aqueles que o amam, percebemos o valor do cinema, muito além da diversão ou do entretenimento, como ferramenta que humaniza, aproxima, promove a compreensão do drama e da aventura humana no planeta e que, com isso, nos mobiliza, permite novas lições e, com isso, melhora a cada um de nós.

 

O Filme

No meio da apresentação falta uma palavra… A experiente e conceituada professora universitária balbucia algo e o silêncio se estabelece. Buscando o vocábulo que daria continuidade ao raciocínio em construção, ela tenta prosseguir. Diante dela um grupo de professores e estudantes da UCLA. Depois de alguns segundos ela substitui o termo que de súbito havia faltado e elabora uma frase que soluciona imediatamente o problema e que ainda descontrai o público.

Estudiosa da área da construção de palavras, especialista da prestigiosa Columbia University, de Nova York, a doutora Alice Howland (Julianne Moore) conclui o evento reconhecida por seus estudos, saberes e habilidade na comunicação dos conhecimentos por ela pesquisados. Aos 50 anos de idade é profissional de sucesso, com livros publicados, feliz em seu casamento e com os filhos já crescidos em busca de seus sonhos pessoais.

O esquecimento daquela palavra, incomum para uma pessoa tão ativa intelectualmente, que regularmente pratica esportes e se encontra em boa forma física, além de se alimentar de forma saudável, passou despercebido para todos, exceto para a própria Alice.

Se divertir jogando em seu celular, com a filha mais velha, jogos de palavras, exercício a mais em seu cotidiano movimentado é um meio que ela encontrou para aumentar o vocabulário e ampliar ainda mais seus horizontes.

Quando esta situação de esquecimento começa a se agravar, com a perda temporária de rumo numa de suas corridas, Alice percebe que precisa de ajuda e procura um neurologista. O diagnóstico precoce do especialista é o de que a professora universitária, contrariando as expectativas para alguém de sua idade, tem o Mal de Alzheimer.

Caso raro, em se tratando de pessoas com a faixa etária de Alice, mas passível de acontecer por conta de herança genética, o diagnóstico de Alzheimer pode ser devastador para uma pessoa, ainda mais para quem vive da memória, a estudar, a pesquisar e a lecionar, como é o caso da personagem.

“Para sempre Alice”, dos diretores Richard Glatzer e Wash Westmoreland, com Julianne Moore em brilhante atuação que lhe rendeu o Oscar, contando com apoio de elenco qualificado com nomes como Alec Baldwyn, Kate Bosworth e Kristen Stewart, coloca as emoções do público a prova, levando muitos às lágrimas.

Para refletir

“Para sempre Alice” traduz em seu roteiro e imagens uma lição de amor e de superação, na medida do possível para quem sofre desta enfermidade e para todos aqueles com quem convive. Dotada de recursos e ferramentas que a auxiliam na luta contra a progressiva perda da memória, Alice resiste o quanto pode e, nesta trajetória, vai nos mostrando o quanto somos frágeis e o que realmente importa em nossas vidas, em relação à qual, tantas vezes dedicamos nossas energias a certas ações e projetos deixando de lado pessoas e realizações que nos fariam muito mais felizes.

Há no filme também a preocupação de mostrar o quanto uma doença grave como o Mal de Alzheimer modifica o cotidiano familiar sem deixar de enfatizar, no entanto, que acima de qualquer coisa, deve prevalecer o sentimento forte que une as pessoas quando uma delas mais precisa, como no caso de Alice. Sensível, triste, cheio de esperança em alguns momentos, com atuações destacadas, especialmente a inspirada performance de Julianne Moore, “Para Sempre Alice” é um filme que precisa ser visto e revisto para que saibamos melhor o que é o Mal de Alzheimer, mas, principalmente para que nos dediquemos mais as pessoas que significam tanto em nossas vidas.

 

Veja o trailer:

 

 

 

 

 

 

Ficha Técnica

  • Título: PARA SEMPRE ALICE
  • Título original: Still Alice
  • País/Ano: EUA/França, 2014
  • Duração: 100 minutos
  • Gênero: Drama
  • Direção: Richard Glatzer, Wash Westmoreland
  • Roteiro: Richard Glatzer, Wash Westmoreland
  • Elenco: Julianne Moore, Alec Baldwin, Kristen Stewart, Kate Bosworth, Shane McRae, Seth Gilliam, Hunter Parrish, Victoria Cartagena, Stephen Kunken.

 

 

 

Informações

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