Criança brincando com tintas e desenhando

Tem uma chance muito grande de você já ter pedido para que seus alunos desenhassem algo, ou talvez ter desenvolvido uma aula em que os alunos precisassem mostrar seus talentos artísticos, independente da idade. A importância de tal atividade em aulas para crianças já é de conhecimento geral, eles amam desenhar e é uma ferramenta para checar se os alunos estão alinhados com o que está sendo ensinado. No caso de adultos, eles são mais hesitantes para realizar esse tipo de tarefa, mas o motivo de aplicá-la é o mesmo: checar o entendimento deles. No entanto, existem razões linguísticas para pedir para que os alunos desenhem, e elas estão relacionadas à aquisição de uma língua estrangeira.

Quando estão desenvolvendo a língua materna, as crianças tendem a cometer erros relacionados à pronúncia, sintaxe e também semântica/pragmática. Crianças conseguem entender a intenção linguística e reproduzir uma frase após frequente exposição (Tomasello, 2003), porém, antes de produzir de maneira precisa, as crianças utilizarão uma expressão idiomática (por exemplo) em contextos que talvez os adultos não entendam. Antes que uma criança possa usar uma expressão corretamente, ela vai generalizá-la primeiro e pensar que a expressão pode ser usada em qualquer situação – exatamente como crianças fazem quando aprendem um verbo pela primeira vez, e então toda palavra se transforma em um verbo pra elas. Esse primeiro comportamento linguístico mostra falta de entendimento do significado da expressão e o que ela representa quando usada. Logo, o contexto também é inapropriado. “Quando pessoas usam os mesmos símbolos linguísticos concretos repetidamente para oralizar umas para as outras em situações “semelhantes”, o que deve surgir com o tempo é um padrão do uso da língua” (Tomasello, 2003: 99), isto é, quando crianças são expostas à fala adulta, padrões linguísticos são criados na mente delas, significados são gerados e, até que consigam definir um significado com precisão, teremos tentativas de oralizações que a sociedade será responsável por formatar e polir. Isso pode ser notado nos excertos abaixo.

 

*Excerto 1 “Two and a Half Men” – temporada 8, episódio 8

Jake – I’ll tell you what’s a great movie. Jackass 2. I know watcha thinking, sequels suck, but not that one. There’s this part…. [ele descreve a passagem]

Megan – It sounds puerile.

Jake – Oh yeah, it’s totally puerile. Unless… puerile isn’t good. In which case it’s totally “unpuerile”.

 

*Excerto 2 “Two and a Half Men” – temporada 8, episódio 8

Evelyn – As a matter of fact I had a date.

Alan – What happened?

Evelyn – He cancelled.

Jake – Wow. Got dumped on your birthday? That’s so puerile… Or is it?

 

A fala não é uma mera ferramenta usada para expressar sentimentos, requisitar algo etc. Sempre que uma pessoa fala, há criação de um significado na mente do interlocutor (Gee, 2013). Essa é a primeira experiência que uma criança tem enquanto presta atenção na fala adulta. Elas internalizam a representação descrita pela fala e suas características linguísticas como padrões fonológicos, e a reproduzem tão logo encontram uma oportunidade para tal. Para instâncias concretas, essa reprodução talvez não cause problema, muito embora a representação mental (significado) da palavra “house” possa estar conectada às experiências de um lar, isto é, a imagem mental e o sentimento que a palavra desperta são construídos através das experiências que interlocutor (uma criança, por exemplo) teve com relação a casas (Gee, 2013). Isso quer dizer que significados linguísticos são formados com base no entendimento pessoal daquilo que foi oralmente produzido e esse é o motivo pelo qual dois desenhos de uma palavra feitos por duas pessoas diferentes geralmente são iguais. Crianças, durante a construção da língua, usam a percepção para “encontrar evidência no uso da língua – padrões distribucionais, redução de pronúncia, desempenho em experimentos que introduzem formas linguísticas pontuais” (Tomasello, 2003: 108).

“Essas experiências (percepções, sentimento, ações e interações) ficam armazenadas na mente ou cérebro, não como proposições ou língua, mas como algo similar a imagens dinâmicas amarradas à percepção tanto do mundo quanto de nossos corpos, estado interno e sentimentos” (Gee, 2013: 137) – quer seja para crianças ou adultos. Como resultado, quando a expressão “when in Rome, do as the Romans do” é oralizada, o interlocutor irá prestar atenção em todos os aspectos relacionados àquela produção para que a expressão seja aprendida. Quando a pessoa é exposta a essa expressão novamente ou deseja utilizá-la, aquele momento vem à tona ou uma nova reconstrução subjetiva daquela imagem é realizada, fazendo com que o uso e entendimento da expressão seja possível. Portanto, significado é, de fato, uma representação subjetiva de uma situação que a pessoa foi exposta a uma produção linguística específica (Gee, 2013) e essa é uma estratégia mental presente em crianças e adultos.

Durante um curso de língua inglesa, professores são responsáveis por garantir que os alunos acessem o “banco de dados” que foi desenvolvido durante a consolidação da L1 e conectem ao novo conteúdo. Os alunos, então, podem fazer um link entre um novo significado situado a outro já presente na representação mental ou usar diretamente uma representação usada em L1 para a L2. O primeiro exemplo é o mais provável de se acontecer, uma vez que os alunos estão adquirindo uma nova experiência e, portanto, criarão um novo significado conforme a situação em que se encontram e irão conectá-lo àquele significado construído dentro da língua materna. No caso de uma construção concreta com palavras como “house”, os alunos podem ligá-las diretamente à sua compreensão do que é uma casa. Logo, atividades que envolvam desenho com os alunos são muito interessantes para aulas de língua inglesa, pois eles irão mostrar a representação mental tanto da língua concreta quanto da abstrata, com uma possível variação de tarefas de role play, (vídeo) games, tarefas escritas, exigindo que os alunos produzam um novo conteúdo para que os professores possam ter um input da compreensão dos alunos.

Se os alunos não tiverem oportunidades para produzirem na língua recém-aprendida, os professores não terão evidência do significado situado, quer eles tenham reconstruído um significado de acordo, generalizado uma característica linguística corretamente ou não e, mais importante, se agora eles estão aptos a acessarem sua representação mental para se comunicarem.

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