Banner do filme "Madame"

Você está onde deveria estar? Será que seu espaço no trabalho realmente é aquele que deveria ocupar? Quem é você para estar onde está nesse exato momento?

Indo um pouco além, é possível reverter quadros de inserção social aparentemente permanentes? Ou ainda, o que faz com que alguém se sinta socialmente mais importante que outras pessoas?

Você já se fez perguntas assim? É bem possível que sim e que, ao refletir sobre o assunto, tenha pensado que está no lugar certo e que é esse espaço que lhe cabe em sua jornada. As pessoas que estão numa situação melhor talvez tenham tido sorte, tenham herdado condição econômica e social privilegiada de seus antepassados, podem também ter ganho algum prêmio ou loteria, quem sabe tinham tino para os negócios e com isso amealharam fortuna e, por isso, ocupam espaço destacado na sociedade.

Há ainda aqueles que, infelizmente, pela ordem social vigente, pelo sistema capitalista que oferece oportunidades, mas que muitas pessoas não aproveitam, por infortúnios pessoais ou ainda por não serem dedicados no estudo e trabalho ou por conta de desajustes familiares, estão abaixo de você, abandonados a uma existência infeliz, pequena ou insigne…

Seria tudo fruto do destino? Ou temos força para mudar nossa condição e, até influenciar em mudanças alheias, oferecendo oportunidades a quem merece?

“Madame”, filme francês estrelado por Rossy de Palma, Toni Collette e Harvey Keitel, da diretora Amanda Sthers, uma comédia romântica aparentemente despretensiosa e divertida, coloca em foco justamente estas questões, relacionadas as diferenças sociais. O que diferencia a copeira dos convidados de madame para um jantar reunindo a nata da sociedade?

O acaso, ou melhor, a chegada de um convidado inesperado para tal reunião de notáveis faz com que, por superstição, se faça necessária a inclusão de mais uma pessoa a mesa, evitando assim o malfadado número 13 e todo azar supostamente associado a ele. O problema é que não há mais tempo para chamar nenhum convidado externo, o que seria também deselegante aos olhos deste potencial novo participante do jantar agendado com tantos dias de antecedência. A etiqueta social não pode ser quebrada ou desrespeitada e, por isso, o que fazer?

Que tal convidar um dos serviçais da casa, aquele de maior confiança e melhor formação, para se fazer passar por um membro dessa nova nobreza que impera na sociedade capitalista atual?

É nesse momento que, para além da pompa e cerimônia ou da mera prestação de serviços em alto nível, para públicos ricos, acostumados a um sem-número de luxos, os caminhos de uma mulher simples, que atua como empregada e/ou governanta da casa, e o universo dos abastados e poderosos, se cruzam, ainda que alguns deles estejam falidos e sejam ricos apenas na aparência.

E se nesse meio de caminho, um dos participantes, a par do que está acontecendo, resolver misturar as cartas e envolver a participante que não faz parte do grupo, fazendo com que ela se torne uma falsa rica, herdeira e discreta celebridade, aguçando a curiosidade e até despertando em algum dos presentes, uma paixão por ela?

Mas quem é ela mesmo? Será que sua verdadeira origem e condição social darão a ela passe livre nesse contexto?

“Madame” é uma comédia inteligente, que diverte e que, ao mesmo tempo, nos provoca a pensar e repensar todas os limites que definem quem é quem na sociedade.

Para Refletir

1- O que define a condição social de uma pessoa? Ao assistirmos “Madame”, essa questão salta aos olhos e nos pede um exercício que não é fácil, ou seja, o de alterar na trama os papéis daqueles que se sentam na mesa do jantar sofisticado e das pessoas que os servem. Exercício que tantas vezes não conseguimos propor para nossa própria realidade… Como é a sua relação com pessoas que não fazem parte do seu contexto social? Se são mais ricas ou proeminentes, é de submissão ou sujeição? Se são mais pobres e desassistidas, é marcada por um tratamento distante e arrogante? No final das contas todos são pessoas, como você, e a escola, por meio das humanidades deve nos fazer entender as diferenças sociais e econômicas e nos propor ações que diminuam o fosso. Que tal trabalhar ações que diminuam as distâncias e promovam mais justiça social, ações sociais em prol dos desfavorecidos, cidadania e ética?

 

2- O trabalho, nos conformes da sociedade em que vivemos, enobrece o homem, lhe dá foco e dignidade, além de lhe prover o pão de cada dia, o teto onde se refugia e descansa, as roupas que veste… Sendo então, teoricamente, tal fonte de dignidade e distinção, porque entre aqueles que trabalham há, também, diferenciações, desprezo ou desrespeito? Porque ainda convivemos com pessoas que, de forma petulante e arrogante, se sentem superiores aos demais mortais? O dinheiro, as posses, os títulos, a pretensa linhagem de sangue azul, o pertencimento a uma nobreza que não mais existe são ilusões. No final das contas, somos todos seres humanos e o mínimo que devemos ter em relação aos demais é respeito e solidariedade. Educar para valores que quebrem estas condições sociais artificialmente erigidas dentro do sistema em que vivemos, é algo que deve ser vislumbrado pelas escolas e educadores.

 

3- Vivemos numa sociedade de máscaras, como se estivéssemos num grande baile a fantasia, no qual temos que assumir papéis, alguns reais e outros fictícios, sendo que estes últimos somente para agradar outras pessoas, exatamente como ocorreu na trama de “Madame”. Até quando teremos que ser o que os outros querem que sejamos, abrindo mão daquilo que somos, de nossa essência, de nossos valores, daquilo que realmente acreditamos? Que as escolas e famílias sejam capazes de respeitar mais a individualidade de seus alunos e filhos, sem querer, a todo momento, lhes imputar o que são seus próprios sonhos e desejos.

 

Veja o trailer:

 

Ficha Técnica

  • Título: MADAME
  • Título original: Madame
  • País/Ano: França, 2017
  • Duração: 90 minutos
  • Gênero: Comédia romântica
  • Direção: Amanda Sthers
  • Roteiro: Amanda Sthers e Matthew Robbins
  • Elenco: Toni Collette, Harvey Keitel, Rossy de Palma, Michael Smiley, Tom Hughes, Violaine Gillibert, Stanilas Merhar, Sue Cann, Arianne Séguillon.

 

 

Informações

Pular para o conteúdo