Aprendi a digitar numa máquina de escrever. Em escola de datilografia. Ambas estão em vias de extinção. Os computadores mudaram a forma como digitamos, oferecendo melhores condições e maior conforto para quem precisa realizar este tipo de trabalho e agregando a isso as inúmeras facilidades e recursos que nenhum modelo de máquina de escrever ofereceu.
Há 30 anos as máquinas de escrever eram onipresentes nos escritórios e os computadores começavam a ganhar espaço, ainda de forma tímida, pelos custos agregados e pelo fato de serem novidades ainda não tão conhecidas.
Passados 30 anos temos computadores em todos os cantos, inclusive nos bolsos de milhões de pessoas que com seus smartphones contam com um verdadeiro canivete suíço eletrônico ao alcance de seus dedos. Parecia ficção, era situação típica dos filmes de James Bond, agora é realidade. Mudou o mundo e, muitas vezes, continuamos a pensar como se ainda estivéssemos numa realidade de máquinas de escrever…
A cultura se modificou e está mudando a cada segundo. Nossos cérebros estão sendo reprogramados para esta mudança sem que nem ao menos percebamos. Vejam como já não temos mais o mesmo interesse pela televisão ou por programas longos…
Dispersamos com rapidez talvez pelo fato de sermos multitarefas ou multitaskers, no original em inglês, alternando a todo o tempo o nosso olhar, de uma atividade para outra, ou melhor, de uma tela para a outra, migrando do computador para o celular, para o tablet, para o relógio computadorizado, para as telas no elevador, os telões nas ruas…
O tempo que deveria ser cada vez mais nosso, com tantas modernidades, escorre por entre nossos dedos, novamente sem que percebamos o quanto isso representa ou mesmo que isso está a acontecer. As tecnologias agregam, significam ganhos, nos dão oportunidades que estão relacionadas ao seu uso inteligente, calculado, planejado e consciente.
Ao invés disso nos rendemos muitas vezes a movimentos que depois nem ao menos sabemos o porquê de estarmos realizando. Quantas horas por dia, por exemplo, são gastas mundialmente em futilidades pelas redes sociais? Socializar com amigos pelo Facebook, Instagram ou Twitter tem sentido e torna estas ferramentas importantes, mas exageros podem causar problemas, dificuldades e mesmo, ter efeitos contrários, como por exemplo, para pessoas que ficam mais tempo conectadas do que se relacionando com familiares e amigos que estão logo ali, ao lado, próximas.
As máquinas de escrever permitiram que o sonho de Gutemberg se tornasse próximo e real, com as pessoas colocando no papel aquilo que pensam, histórias que tem para contar, saberes que possuem e querem compartilhar. Os computadores e a internet foram além disso pois nos proporcionaram a chance de publicar e levar para os quatro cantos do mundo todo um conjunto de experiências e ideias que estão dentro de nossos próprios cérebros, atingindo pessoas com as quais jamais teríamos condições reais de contato. Fantástico, maravilhoso, soberbo, mas se nos rendermos ao movimento mecânico e fútil diante das telas, não nos permitindo pensar sobre o que estamos ali fazendo ou mesmo o que significa toda esta rede e as tecnologias que a alimentam, tudo se esvai, perde o sentido e junto, pelo ralo, vão as existências de quem por ali apenas digita e permanece agindo sem senso crítico…