Inicialmente ele(a) teria muito mais dificuldades para ingressar no mercado de trabalho, conforme indicam pesquisas, quanto maior a escolaridade do candidato a empregos, maiores as chances de ele conseguir uma oportunidade. As chances aumentam ainda mais se o jovem completar cursos técnicos, se concluir um curso universitário e, fica ainda melhor se fizer pós-graduação, mestrado, MBA…
A renda de quem estuda menos é também menor, conforme atestam dados de pesquisa do professor Ricardo Paes de Barros, do Insper. Quem conclui o Ensino Médio consegue adicionar, em média, 35 mil reais a mais ao longo da carreira em comparação com aqueles que somente concluíram o Ensino Fundamental.
Estudar mais, neste caso, apenas concluindo o Ensino Médio, representa empregabilidade maior e melhor rendimentos mensais. Somente isso já seria suficiente para enfatizar a necessidade de continuar os estudos.
O problema é que, no Brasil, conforme “insistem” as pesquisas, o índice de evasão, ou seja, de abandono dos estudos no Ensino Médio, continua muito alto…
Dados relativos a 2017, informam que para a parcela da população brasileira que tem entre 15 e 17 anos, portanto na faixa etária em que deveriam estar cursando o Ensino Médio, composta por cerca de 10,3 milhões de pessoas, um total de 1,5 milhões de jovens nem sequer fizeram matrículas para entrar numa sala de aula neste segmento de formação escolar.
Se não bastasse este índice alarmante, equivalente a aproximadamente 14,5% dos jovens nesta faixa etária, há ainda 700 mil que abandonam a escola antes de terminar o ano letivo que iniciaram. Daqueles 10,3 milhões iniciais, já baixamos para 8,1 milhões o total de estudantes que chegam a escola e, entre eles há outras baixas, motivadas por fatores como repetência escolar, necessidade de trabalhar para ajudar no sustento da família, gravidez precoce, drogas…
No final das contas, o total de estudantes que concluem o Ensino Médio chega a 6,1 milhões de jovens, o equivalente a somente 59% do total que teria que estar em salas de aula no país neste segmento.
Esse é o retrato da evasão num quadro amplo, que inclui dados de todas as regiões do país e das diversas camadas sociais que vivem no Brasil.
O abandono, no entanto, é maior entre alguns grupos sociais e tem maior incidência em certas regiões e estados do país do que em outros… Nestes casos, além de evasão, o quadro passa a ser de exclusão…
Entre a população negra nesta faixa etária, também entre aqueles cujas mães são analfabetas ou em se considerando os jovens que vivem no Nordeste brasileiro, em regiões sertanejas e rurais, com menores possibilidades, aqueles que conseguem completar o Ensino Médio no país somam apenas 8% do total…
Para os alarmistas de plantão, ou seja, aqueles que irão pensar ser este um efeito deste ou daquele governo, presidente, partido ou qualquer outra pecha política, é importante destacar que este quadro não teve melhoria sensível ao longo dos últimos 15 anos (desde 2002, portanto, em se considerando que os dados mais recentes remontam a 2017). Há mais jovens na escola, hoje, proporcionalmente, do que em décadas passadas, cursando o Ensino Médio, no entanto, o abandono e a evasão também aumentaram.
Uma das questões essenciais a serem discutidas é a qualidade do ensino oferecido neste segmento específico do Ensino Médio. Há falta de especialistas para várias áreas do conhecimento trabalhadas nas escolas, em especial das redes públicas estaduais e das regiões mais pobres do país, como o Nordeste.
A vinculação dos estudos no Ensino Médio a preparação para o Enem e vestibulares é também algo que precisa ser revisto. A preparação não é para uma ou algumas provas específicas, mas para a vida, literalmente, para o exercício da cidadania, da ética, de profissões, de realizações pessoais, de formação futura de novas famílias… Enquanto os jovens buscarem escolas pensando somente em “passar no Enem ou no vestibular” fica evidenciada a grosseira falha no processo formativo deste segmento e nas políticas públicas para a educação dedicadas a esta faixa etária.
O Ensino Médio lida com os jovens numa época de seu desenvolvimento em que buscam desafios, compreender o mundo ao seu redor, se integrar, compor seus caminhos, realizar feitos que os façam se sentirem felizes, participar opiniões, ter e compartilhar ideias.
As escolas estão descontextualizadas, apresentando os saberes de modo repetitivo, nos moldes do ensino mais tradicional, sem se integrar – de fato – as novas tecnologias que estão ao alcance dos jovens estudantes, falando outras línguas e não aquelas que podem gerar empatia, engajamento e real interesse destes jovens em participar da educação e, a seguir, da vida do país num âmbito maior.
Vivemos, no atual contexto, a evasão e a exclusão ao mesmo tempo e de maneira bastante cruel, com as regiões mais pobres sendo castigadas pelo descaso das autoridades e imobilismo da sociedade civil, que deveriam buscar respostas e emendar ações em prol da educação para estes jovens.
Uma educação de melhor qualidade certamente poderia evitar problemas com drogas, a maternidade precoce e a necessidade de trabalhar para ajudar a família que tira muitos destes adolescentes das salas de aula.
Estudar é essencial para que o futuro de cada um destes meninos e meninas possa ser melhor e, também, para que o país floresça e cresça da forma como deveria, pelo bem de todos os brasileiros. Mais do que palavras, neste momento, precisamos de ações concretas que viabilizem o retorno destes estudantes para as salas de aula, lição que ainda não foi aprendida e aplicada pelos governantes brasileiros e pela sociedade civil…