Nos últimos anos temos visto um constante movimento de idas e vindas envolvendo pessoas que buscam refúgio em continentes e nações desenvolvidas. A Europa, os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia são destinos almejados por milhares de homens, mulheres e crianças que abandonam seus países de origem em busca do sonho de uma vida estável. Buscam a estabilidade econômica, política e social. Fogem do flagelo da fome, da guerra, das perseguições étnicas ou religiosas. Acreditam que cruzar mares, oceanos ou longas extensões de terra lhes permitirá a paz e a prosperidade que não conseguiram nos locais onde nasceram e cresceram, onde seus antepassados escreveram sua história e nos quais muitos de seus parentes e amigos permanecem após sua retirada.
Em séculos passados estas migrações humanas eram até mesmo estimuladas e desejadas. Eram necessárias novas levas de colonos para que as terras fossem ocupadas e se tornassem produtivas. Algum rei, rainha ou presidente, assessorado por seus parlamentares, queria fincar de vez a bandeira de suas raízes num local promissor e longínquo. Milhões de pessoas atravessaram o mundo para realizar este sonho de construir uma nova e melhor existência.
No século XXI, após quase 2 décadas passadas, o panorama é outro, marcado não mais pela busca de novos colonos, mas pela construção de muros e leis que isolem quem já alcançou o bem-estar social e a prosperidade econômica numa democracia estabelecida e vigorosa como aquelas que imperam nos países mais buscados por estes imigrantes. Os imigrantes não são mais desejados, por vezes, no entanto, por razões humanitárias, abrem-se as fronteiras, a partir da intervenção das Nações Unidas; em outras, como no caso dos países emergentes, até há abertura e possibilidades, mas o que espera estes homens e mulheres é um destino incerto, talvez um pouco melhor do que aquele que deixaram para trás, sendo que por tão pouco, não sabem se a mudança pode valer a pena.
“E.T. – O Extraterrestre”, filme de Steven Spielberg, um dos maiores sucessos de bilheteria de todos os tempos, parece não ter nada que o relacione a este imenso movimento de massas do mundo atual. Se examinarmos, no entanto, a questão do ponto de vista do estrangeiro ou alienígena que visita outro planeta ou nação, sendo visto como alguém muito diferente, exótico, digno até mesmo de suspeição e de encarceramento, não estaremos chegando próximos da temática do filme de Spielberg?
Se pensarmos na forma como Elliott, o menino que se assusta com o E.T. recém-chegado e que, ainda assim, se dispõe a recebê-lo, colocando-o dentro de sua casa, procurando estender as mãos e cuidar daquele ser intergaláctico para que, com isso, o novo amigo aprenda uma nova língua, perceba a cultura diferente na qual está inserido, consiga se relacionar com aqueles que são de outra espécie e, mesmo, quem sabe, possa se estabelecer por aqui, não estamos diante de uma poderosa e necessária analogia a ser feita?
Esta fábula espacial, contada de um jeito tão terno e familiar, como se qualquer um de nós, independente da origem, etnia, religião, conta bancária, gênero ou qualquer outro atributo, tenhamos uma relação de proximidade com o filme e com as ações de Elliott e de seus irmãos e amigos, pode ser um relato inspirador para os tempos sombrios de exclusão, ódio, perseguição e xenofobia que estamos vivendo nas duas décadas já passadas neste século/milênio que mal se iniciou…
Ver, rever e apreciar o filme, a riqueza por trás das ações puras e singelas das crianças que lideram a história ao lado do ser intergaláctico, memorável para gerações que conhecem sua história desde o lançamento do filme no início dos anos 1980, é uma excelente oportunidade para repensar a postura extremista que vigora no mundo atual e que faz os muros serem erguidos…
O Filme
A floresta, na escuridão da noite, onde alguns sons de animais podem ser ouvidos, é invadida por algumas luzes e estranhos seres, a examinar a vida que por lá existe, a natureza rica e diversificada que pode ser percebida na fauna local. Estes extraterrestres estão a vagar por ali, aparentemente a examinar e estudar o local e suas espécies vegetais. De repente, luzes intensas, barulho de cães, homens com lanternas a entrar na mata, em busca do desconhecido, do invasor, para capturá-los, ainda que não saibam quem são, o que fazem, o que querem ali…
A pressa então leva os seres de outro planeta a fugir, com rapidez, em direção a sua nave e zarpar o quanto antes para que não sejam capturados por aqueles homens e seus cães. Um deles, no entanto, fica para trás – isolado, com medo, encolhido em meio aos arbustos, sem saber o que fazer ou como ir para casa…
Enquanto isso, num bairro próximo daquela floresta, meninos se divertem e jogam enquanto pedem pizza. Quando chega a encomenda, o menor deles é convocado para ir buscar o alimento. Depois de pegar e pagar a encomenda, ele volta para dentro de casa e, ainda no caminho, escuta uns sons diferentes… Curioso, vai ver o que está acontecendo e, então, se encontra com aquele ser… Corre para dentro, conta para os outros meninos, todos vão para fora, mas já não encontram o tal “duende” mencionado por Elliott… Talvez seja um coiote… As marcas no chão indicam que pode ser… O menino diz que não, mas ninguém acredita nele…
Começa aí uma amizade que conquistou milhões de fãs e que fará com que o menino Elliott, com a ajuda de seus irmãos e amigos, acolha o ser de outro planeta, nomeado por eles como E.T., cuidem dele, o escondam das autoridades, lutem por sua vida e tentem ajudá-lo a voltar para seu planeta de origem.
A bela fábula criada por Spielberg conquistou legiões de fãs no mundo inteiro e continua viva, intensa, rica de mensagens e ideias, a convidar as novas gerações a conhecê-la e, aos fãs de décadas passadas, a revê-la! Um memorável e inolvidável clássico! Imperdível!
Para Refletir
Os muros que se erguem não são apenas aqueles que excluem os imigrantes dos destinos que eles perseguem. Há, sem dúvida, políticas persecutórias e excludentes sendo erguidas que precisam ser entendidas, discutidas e revistas. No entanto, além destas barreiras legais ou físicas nas fronteiras que dividem o mundo rico do pobre, existem também as questões relativas as nações de origem destas pessoas que são igualmente fatores de opressão a lhes fazer optar pelo exílio, fugindo das trevas que são a eles impostas nestes países, como o desemprego, as perseguições políticas ou religiosas, a pobreza, a fome, as epidemias, o analfabetismo… Derrubar muros não significa apenas abrir os portões do aparente paraíso que se encerra nos países desenvolvidos para todos estes imigrantes. É preciso resolver as questões que levam as pessoas a trilhar caminhos perigosos, mortais muitas vezes, abandonando toda sua história, família, tradição, amigos, bens e o que for, em troca do desconhecido…
Quando “E.T.” foi lançado, o mundo vivia uma grande divisão, com os norte-americanos e o capitalismo de um lado e, do outro, a União Soviética e o socialismo do outro… O que mudou de lá para cá? A exclusão que vivemos nos primeiros 20 anos do século XXI, em relação a qual podemos fazer uma analogia com o filme, também existia naquela época, talvez perceptível no embate entre comunistas/socialistas e capitalistas?
O que nos torna próximos é a nossa humanidade. Não há como negar. Independentemente de qualquer fator, como a origem, a etnia, a religião ou o gênero, somente para mencionar alguns, somos todos seres humanos e temos que cultivar o pensamento da integração, do respeito, da ética e da civilidade na relação entre as pessoas e os povos. Somente assim o mundo todo poderá prosperar e combater de forma efetiva os seus principais flagelos, como a fome, o analfabetismo, as perseguições, a pobreza, as epidemias, as guerras e outros grandes desafios.
Assista o trailer oficial do filme em:
Ficha Técnica
Título: E.T. – O Extraterrestre
Título original: E.T.
País/Ano: EUA, 1982
Duração: 120 minutos
Gênero: Fantasia/Ficção/Aventura
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Melissa Mathison
Elenco: Henry Thomas, Drew Barrymore, Dee Wallace, Robert McNaughton, Peter Coyote, C. Thomas Howell, K. C. Martel, Sean Frye, Erika Eleniak.