– Sr. Presidente, que surpresa o senhor por aqui! Não cogitávamos sua presença aqui na nossa escola.
– É com humildade e honra que me dirijo a todos vocês como presidente do Brasil.
– Que honra! Sou o Sr. Gestão e aqui ao meu lado está o Sr. Jeitinho, e temos um prazer enorme em recebê-lo. Aproveitando sua presença, gostaríamos de saber sobre os projetos relacionados à educação, a escolha do novo ministro…
– Tem que ser alguém que chegue com um lança-chamas e toque fogo no Paulo Freire.
– Mas Sr. Presidente. Paulo Freire é o nosso patrono da educação. Sua contribuição à alfabetização e formação de nossas crianças é inestimável e sua obra é reconhecida mundialmente por meio dos diversos prêmios que recebeu.
– Esse método deu errado, tem de acabar com isso. Tem que voltar a pôr tabuada na régua do filho. Falei, sim, do lança-chamas. Qual o problema?
– Nenhum, não é, Sr. Gestão, talvez ele tenha pensado em dar um jeitinho em tudo isso.
– Tudo bem, Sr. Jeitinho. Sr. Presidente, vamos mudar de assunto. Estamos vendo, Sr. Presidente, uma insatisfação generalizada com relação aos cortes na educação, no orçamento das universidades. Os estudantes e professores estão indo às ruas…
– Os manifestantes são uns idiotas úteis, uns imbecis, massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo de muitas universidades federais no Brasil.
– Mas Sr. Presidente, faz parte do processo democrático o protesto pacífico e consciente. É um direito constitucional, não é verdade?
– É natural, mas a maioria ali é militante. Há excesso de direitos no Brasil.
– Mas Senhor Presidente…
– Sr. Gestão, foi só o jeitinho dele falar…
– Tudo bem, Sr. Jeitinho. Sr. Presidente, sabemos das dificuldades pelas quais o nosso sistema educacional passa, e acredito que o Senhor deve estar a par de tudo isso. E sabendo dessa dificuldade, cortar recursos não impedirá ainda mais os investimentos para que se avance o sistema?
– Se não tem dinheiro, tem que contingenciar. Agora, a educação brasileira está deixando muito a desejar. Está indo ladeira abaixo.Você vai tomar uma tabuada de uma criança de 9 anos de idade, 70% não sabe. Quem disse isso são as provas, como o Pisa. Não sabem a fórmula da água.
– Consciente dessas dificuldades, qual o projeto do Senhor para corrigir essas deformações?
– Precisamos inverter a pirâmide: o maior esforço tem que ocorrer cedo, com a educação infantil, fundamental e média.
– Concordo plenamente com o Senhor, Presidente. Temos que dar um jeitinho nisso tudo.
– Também concordo que nenhuma das fases do sistema educacional deve ser negligenciada, Senhor Presidente.
– Hoje, as provas do Pisa comprovam o que estou falando. A molecada de 15 anos, na 9ª série do Ensino Fundamental, 70% não sabe sequer uma Regra de 3.
– Sim, Sr. Presidente, e o que o Senhor realmente deseja para o futuro de nossas crianças?
– Queremos uma garotada que não esteja ocupando os últimos lugares no Pisa. Queremos que não mais 70% dessa garotada não saiba fazer uma regra de três simples, não saiba interpretar textos, não saiba perguntas básicas de ciências. Nós queremos uma garotada que comece a não se interessar por política, como é atualmente dentro das escolas, mas comece realmente a aprender coisas que possam levar, quem sabe, ao espaço no futuro.
– Para concluir, Sr. Presidente, como Gestor Escolar, gostaria de saber qual o objetivo da educação para que essa conquista de espaço no futuro se concretize, para que possamos tornar nossos alunos cidadãos responsáveis e éticos no cumprimento de seus deveres com relação ao seu próximo e ao meio ambiente?
– Escola é lugar de se aprender física, matemática, química e fazer com que no futuro tenhamos um bom empregado, um bom patrão e um bom liberal. Esse é o objetivo da educação.
– …
– Sr. Gestão, será que eu posso dar um jeitinho nisso tudo?
O diálogo acima é uma ficção. As falas do Senhor Presidente foram extraídas e adequadas ao diálogo acima dentro dos mesmos contextos quando foram ditas quando indagado sobre o tema educação. Qualquer interferência no avanço do processo educacional não será mera coincidência.