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O acesso em grande escala ao computador e aos dispositivos móveis provocou uma mudança social que atinge desde as miudezas de aspectos cotidianos e individuais, passando por relacionamentos e pelo mundo do trabalho, até os aspectos societários macroestruturais como o modo de fazer política ou de constituir mercados. Essas mudanças aceleradas não podem ser ignoradas pelas instituições responsáveis por pensar o mundo. E, para pensar e refletir a respeito do que desponta como promessa, educadores precisam tomar as rédeas diante das novas possibilidades de aprendizagem presentes em novas tecnologias – assim como frente aos problemas raramente discutidos, mas frequentemente presentes nelas.

 

A cultura digital e as mudanças no ensino

Com sua malha difusa e penetrante, os dispositivos digitais e suas ferramentas se mesclam ao espaço escolar, seja através dos celulares ligados por baixo da carteira ou do blog discente sobre a instituição. Queira ou não, a pauta se impõe. Discutir a metodologia é a primeira coisa frente à cultura digital; pensar a reforma curricular deveria ser outra igualmente importante. Repensar a prática pedagógica é um passo que só caminhará para o sucesso se seguido de outro, o redesenho do currículo. Mudar como ensinar e mudar o que ensinar, articulando saberes, agindo multidisciplinarmente. 

Um processo de ensino-aprendizagem que favoreça a construção colaborativa de conhecimento é o que buscam educadores que trabalham com uma lógica prática e crítica. Estes não pretendem que as mídias e os dispositivos de acesso à informação constituam a redenção para os problemas de ensino. Mas veem que, utilizados com base em um projeto da comunidade escolar como resultado de uma fundamentação teórico-crítica, os elementos da cultura digital podem se tornar grandes aliados. 

A quarentena contra a pandemia veio acompanhada de uma multiplicação de estratégias de ensino e aprendizagem remotos para além do ensino superior. Crianças e adolescentes, alunos da educação básica, estão sendo formados através de plataformas que disponibilizam videoaulas, materiais de estudo, exercícios e atividades pelo tempo que durar o isolamento. O retorno parcial ao espaço físico escolar anuncia o ensino híbrido como horizonte.

 

Combinações para o futuro da aprendizagem

O futuro próximo nos reserva uma combinação entre momentos presenciais e momentos a distância. Sua construção não pode deixar de buscar alicerces como autoria, autonomia e dialogicidade, encontrados em filósofos como Sócrates e educadores como Paulo Freire. Há aprendizagens aceleradas em curso (dos professores diante do digital), e o que faremos delas no retorno à dita normalidade ou ao chamado “novo normal” terá grande impacto.

São ainda mais fundamentais as combinações outras que podemos propor: do que aprender diante de um mundo em contínua revolução, de novos componentes curriculares que explorem a pesquisa, a bricolagem e a prototipação, de como favorecer a interdisciplinaridade, tão necessária para a criação de soluções criativas, de como garantir o universal, o regional, o coletivo e o projeto individual; este, posto muitas vezes de lado em projetos homogeneizantes, deveria ocupar boa parte de um projeto educativo.

As escolas serão obrigadas a rever o número de alunos em sala – aí está uma grande oportunidade para que se desenhe um processo educativo mais sensível a cada sujeito. Se por um lado o projeto de vida deve ser um elemento constitutivo do projeto educativo, por outro o planejamento de cada professor deve se abrir para a personalização. Seja adaptando materiais, indicando leituras extras ou, de modo mais tecnológico, usando plataformas adaptativas (que, através de dados, acompanham os alunos em sua aprendizagem), o professor, atento às dificuldades de cada um, traça diferentes estratégias dentro de um mesmo plano de ação.  

 

O novo desafio dos educadores

Professores e alunos são consumidores de imagens, sons e textos de informação ou entretenimento e têm à disposição ferramentas simples e eficazes de produção e veiculação. Esta característica da internet traz ao espectador e ao leitor um potencial protagonista nunca tão vigoroso no mundo comunicacional. Com isso em mente, o professor não planeja apenas aulas expositivas, mas compreende que há outras formas de ensinar e as inclui no seu planejamento. Com isso, o professor encoraja seus alunos a estabelecerem links entre diferentes objetos de ensino.

Desempenhar o papel de mediador e orientador do processo parece periférico para muitos professores apegados ao poder centralizador do detentor do saber. Em uma proposta de trabalho docente baseado na combinação de mídias, no uso de dispositivos que permitam a criação, na possibilidade de elaboração de discurso circulando entre todos, os alunos aprendem enquanto ensinam na medida em que compartilham achados. O educador tem como desafio orientar os seus alunos em como contextualizar os dados, em como contextualizar a informação, transformando dados e informações em conhecimento significativo. O Google tem muitas respostas, mas é preciso critério de seleção para se chegar a respostas com credibilidade. É preciso, antes ainda, saber fazer perguntas.

É importante assegurar que a velocidade não crie sujeitos instantâneos, sem uma formação que lhes permita encontrar soluções e respostas duradouras ou visões profundas e críticas do mundo – algo que, até aqui, o chão da sala de aula mostrou-se bem mais capaz de promover. Ao professor, caberá a mescla competente entre possibilidades e o olhar agudo sobre a qualidade. E a qualidade, como afirma Edméa Santos (2019), “vai além da modalidade. É possível ter educação de qualidade presencial, a distância, on-line ou em desenhos híbridos. Contudo, o exercício de distinguir e caracterizar cada modalidade educacional nos habilita a dizer de que lugar falamos ou defendemos nossas ideias.”

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