Tenho recorrentemente tratado do tema Metodologias Ativas em diferentes veículos de comunicação nos últimos anos.
Nestas ocasiões, ressaltei sobre a importância de tornar o aluno um elemento ativo do processo de aprendizagem, enfatizando que não somente a atividade do aluno importa, mas também a atividade em si, para que haja pleno envolvimento do aluno, em termos não somente comportamentais, mas também em termos emocionais e psicológicos[i].
No entanto, e inobstante – posso dizer – um certo impulso dado às Metodologias Ativas pela pandemia do Covid-19, ainda tenho um certo ceticismo em relação à sua utilização efetiva em sala de aula, embora veja o tema com positividade.
Em certos casos, parece haver ainda uma certa resistência ou descrédito dos docentes em colocar em prática determinadas técnicas que tornam o aluno mais ativo em sala de aula, entre várias questões que fazem parte deste debate.
Na comemoração deste Dia Internacional da Educação, buscarei neste artigo evidenciar alguns aspectos importantes deste tema, tanto no que se refere à sua aplicação, quanto às dificuldades inerentes.
Afinal, trata-se de um tema que tem diretamente a ver com as necessidades atuais da Educação em geral.
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Porque é tão difícil?
Esta não é uma pergunta retórica, e sua resposta pode ser obtida a partir de algumas reflexões, como as feitas por Simone Mesquita, Rejane Meneses e Déborah Ramos, em um estudo realizado em um curso de enfermagem, que elencaram três dificuldades para aplicação das Metodologias Ativas: problemas curriculares, resistência docente e dificuldade de compreensão de sua aplicabilidade na prática docente[ii]. Vou explorar um pouco mais essas vertentes.
A questão dos currículos engessados é particularmente um problema cujo fulcro encontra-se na essência do nosso próprio sistema de ensino: a insistência na classificação quantitativa dos alunos, em especial como método de avaliação.
A despeito dos avanços obtidos com a recentemente implantada Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a prática – e estou falando particularmente da prática docente – ainda está longe dos parâmetros preconizados no documento.
Ou seja, a BNCC ainda engatinha, e muito do que é feito em sala de aula ainda está mais próximo das velhas práticas do ensino tradicional do que das inovações pretendidas, em que as Metodologias Ativas de Aprendizagem se constituem de parcial importância.
O aspecto da resistência docente – que perpassa pela dificuldade em assumir um papel de protagonismo em termos de mudanças paradigmáticas – fica facilmente perceptível nas palavras de Mário Sérgio Cortella: “mudar é complicadíssimo.
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Gostamos mais daquilo que nos é familiar, ao que já estamos habituados”[iii], com a natural consequência: “recusa de muitas e muitos em mudar os caminhos pedagógicos”[iv], o que gera, ainda em suas palavras, o acorrentamento, ou seja, a insistência no velho, no que não funciona mais. Isso, sem contar aqueles que não mudam por pura preguiça. Para não ter “trabalho”.
Estas questões, claramente, perpassam pela situação da dificuldade da compreensão da aplicabilidade das metodologias ativas, o que claramente tem a ver com o problema do baixo investimento em formação dos professores em geral.
Não basta conhecer a metodologia como mera técnica, é necessário entender sua filosofia e seu escopo, sem o que seu entendimento fica obliterado.
Só para citar um exemplo, em um aspecto que é básico para se aplicar Metodologias Ativas na escola, ainda se observa grande dificuldade de muitos professores em aplicar em sala de aula algo que deveria estar na essência de qualquer processo educacional: a empatia e o trabalho das competências socioemocionais dos alunos.
Não é para menos que Marta Relvas, ao tratar da questão da atuação do professor nos procedimentos pedagógicos, elenca, como primeira atuação, “criar em sala de aula um clima favorável para a aprendizagem”[v]. Da mesma forma, defendo o alinhamento entre as competências socioemocionais e as Metodologias Ativas.[vi]
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É perceptível, na fala de Antonio Nóvoa[vii], o destaque à questão da formação de professores. Ele os coloca em um tripé, composto pela Formação Inicial, pela Indução Profissional e pela Formação Continuada.
Na formação inicial de professores, detectamos alguns pequenos lapsos importantes, como a ausência de algumas formações, como as de Neurociência Pedagógica em geral e das Metodologias Ativas, em particular. Insiste-se ainda em velhos modelos didáticos e metodológicos, anacrônicos e desassociados da realidade.
Ou ainda, como salienta Nóvoa, da falta de articular o conhecimento acadêmico com o conhecimento profissional, bem como da articulação entre a Universidade, a Escola e os Professores, em sentido lato.
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Como implantar as Metodologias Ativas?
Há vários pontos a serem salientados para a implantação das Metodologias Ativas na realidade escolar. Alguns deles perpassam pela própria política educacional da escola, e outras pela mudança de perspectiva e atitudes do professor.
Seguem algumas ideias que podem fazer a diferença entre seguir aspectos falidos do modelo educacional tradicional, e tentar compatibilizar os aspectos positivos deste com as inovações e novas perspectivas trazidas pelas metodologias ativas.
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Torne as Metodologias Ativas um Projeto da Escola
Em se tratando de Metodologias Ativas, definitivamente uma andorinha não faz verão. Dificilmente um professor, de forma isolada, conseguirá sucesso na implantação e gerenciamento do uso das ferramentas sem um projeto que envolva toda a comunidade escolar, ou seja, que esteja no âmago do Projeto Político Pedagógico da Escola.
Isto significa formação de professores, alunos e responsáveis (sim, responsáveis também, pois pode haver muita resistência por incompreensão), significa um trabalho docente em conjunto, em muitos momentos de forma transversal na abordagem dos conteúdos, e significa uma mudança radical de filosofia nos procedimentos de aula, de avaliação e da forma de conduzir as aulas.
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Compatibilize as Metodologias Ativas com as Competências Socioemocionais
Sendo uma base da implantação das Metodologias Ativas, as Competências Socioemocionais são absolutamente necessárias para o professor e para os alunos, em termos de motivação para cumprir as tarefas, de resiliência para enfrentar os momentos de dificuldade, de aprender a trabalhar em equipes e individualmente, de aprender a gerenciar o tempo e combater a procrastinação, de aprender a se autoavaliar assertivamente, de entender sua responsabilidade com a própria construção do conhecimento.
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Estude as Metodologias Ativas e as aplicabilidades
Existem múltiplas possibilidades de aplicação das Metodologias Ativas, bem como existem múltiplas técnicas, que podem ser usadas com sucesso nas mais variadas situações.
O que não existe, com certeza, é uma “fórmula de bolo”, ou determinada metodologia que dê certo sempre, em qualquer contexto.
Neste sentido, há necessidade de estudo e apropriação do professor das várias metodologias, e a verificação de qual ou quais pode representar maior possibilidade de sucesso em seu contexto. Em outras palavras, se requer planejamento.
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Considerações Finais
Há muito ainda a ser feito no campo das Metodologias Ativas. Caminhos que passam pela formação dos professores, por mudanças de paradigma, por um trabalho planejado e metódico de mudança na escola, pela adaptação dos próprios sistemas de ensino.
O que não se deve perder de vista, entretanto, é que este é um caminho inevitável. Cada vez mais, embora ainda em ritmo lento, está sendo exigida uma formação tecnológica e a utilização de ferramentas cada vez mais “antenadas” com as necessidades atuais dos alunos e a complexidade da união entre as tecnologias digitais e a sala de aula tradicional.
Ainda é um caminho árduo e turbulento, e idas e vindas parecem igualmente inevitáveis. Estarão mais à frente e em condições melhores aqueles que, proativamente, estiverem se instrumentalizando, em processo de formação continuada, com as novidades tecnológicas e metodológicas.
As Metodologias Ativas vieram para ficar. E para melhorar a Educação. Não há como comemorar o Dia Internacional da Educação sem pensar nas possibilidades trazidas pelas Metodologias Ativas.
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Referências
[1] CODEA, André. O Aluno como Centro do Processo Educativo. Revista Presença Pedagógica na Sala de Aula, nº 169, Outubro de 2020, p. 26-30.
[1] MESQUITA, Simone Karine da Costa; MENESES, Rejane Millions Viana; RAMOS, Déborah Karollyne Ribeiro. Metodologias Ativas de Ensino/Aprendizagem: dificuldades de docentes de um curso de enfermagem. Trabalho, Educação e Saúde, 14 (2) • May-Aug 2016 • https://doi.org/10.1590/1981-7746-sip00114.
[1] CORTELLA, Mário Sérgio. Educação, escola e docência: novos tempos, novas atitudes. São Paulo: Cortez, 2014, p. 32.
[1] Idem, p. 19.
[1] RELVAS, Marta Pires. Estudos Neurocientíficos: uma nova fronteira para educar, incluir e integrar. Revista Presença Pedagógica, ed. 180, ano 26, setembro de 2021, p. 17.
[1] CODEA, André. Desenvolvendo Competências Socioemocionais na Escola. Revista Presença Pedagógica, ed. 180, ano 26, setembro de 2021, pp.26-30.
[1] NÓVOA, Antonio. Os Professores e a sua Formação num Tempo de Metamorfose da Escola Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 44, n. 3, e84910, 2019. http://dx.doi.org/10.1590/2175-623684910