Pouca gente sabe, ou se lembra, que nós, humanos, não nascemos na escola. Pelo contrário, somos encaminhados para ela em algum momento da vida. A esse processo dá-se o nome de transição escolar.
A transição para a escola é um processo tão sério e tão importante que já mereceu livros, teses, discussões e, é claro, muitas opiniões.
Transferir uma criança do contexto familiar para a escola requer cuidado e esse cuidado é afetivo, é delicado, é compassivo e, por sinal, é muito perigoso.
Ao nascer, uma criança tem que ir, aos poucos, se adaptando às regras de uma sociedade: comer da maneira que nos dizem, falar da forma que nos orientam, comportar-se como esperam e aí segue o processo de humanização.
Porém, tudo isso acontece num contexto familiar, concomitante à aquisição da linguagem. Aprendemos a falar ao mesmo tempo em que aprendemos a nos colocar no “mundo de casa”; no nosso mundo.
Esse nosso mundo é familiar, com regras e condições que a nossa família acha importante. Acontece que, depois de toda essa adaptação, que já durou no mínimo 4 anos, a criança é levada a uma escola, que na cabeça dela não quer dizer nada, e ao mesmo tempo quer dizer tudo.
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Os questionamentos durante a transição escolar
Que espaço é este em que todos têm o mesmo direito? Que espaço é este que tem horário para tudo? Que espaço é este em que todos têm que fazer a mesma coisa o tempo todo? Que espaço é este onde as regras de cada um não valem mais e agora só valem as regras coletivas? O que são estas tais palavrinhas mágicas que tanto me cobram?
Essas são perguntas feitas pelas crianças que são colocadas na escola. É claro que diante de tantas questões, dependendo do estado emocional da criança, ela opta por não fazer esse esforço, ou seja, é aí que a tal transição escolar não acontece.
Para que uma criança possa fazer a opção por aceitar e encarar essa nova jornada, que exigirá dela muita perda, muito limite e muita frustração é preciso que ela tenha certeza de que não estará sozinha. Pais e educadores têm a difícil tarefa de seguir os passos da criança enquanto ela sozinha vai fazendo as concessões e vai tirando a suas conclusões.
Quando uma criança sente que o desafio será grande demais e que ela está absolutamente sozinha, nada vai acontecer e a tal transição escolar vira um tormento para a família e sobretudo para a escola.
Aqui cabe o velho ditado: espinho quando tem que furar de pequeno traz a ponta. Ou seja, se a entrada na escola não é doce e delicada, a permanência nela dificilmente será.
O assunto tem ganhando cada vez mais corpo diante de polaridades vividas por nações e culturas. Muitas vezes pais e responsáveis não mensuram o que é o processo educativo.
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A importância do Projeto Político Pedagógico (PPP) na transição escolar
Aqui vale um esclarecimento. A escola trabalha com um projeto político pedagógico, o famoso PPP. É esse documento que deveria ser lido pelos pais e responsáveis antes de fazerem a matrícula de seus filhos naquela instituição. É nesse documento, que não por acaso tem a palavra político na composição, que orienta as escolhas e as práticas dos professores e da direção escolar.
Nesse documento estão os projetos que a instituição acredita. Esses projetos vão desde a escola religiosa da escola até os projetos de família, sexualidade e altruísmo. Estão ali ações que ao serem desenvolvidas irão agregar, pouco a pouco, nas crianças, valores e percepções que muitas vezes não são escolhas da família.
Imaginemos um aluno vinte dias letivos, no mínimo 4 horas por dia, dentro de uma instituição que prega algo, que acredita em algo e que faz esse algo acontecer em leituras, discussões e projetos. Mas os conflitos entre escola e família podem estar surgindo justamente ali, pois esse algo dito pela escola lá no PPP não é o algo esperado pela família lá dentro de casa. Essa disparidade costuma dar problema e tem dado demais nos últimos anos.
Penso que os pais e os responsáveis pela educação das crianças precisam avaliar o que aquela escola oferece, pois toda escola é uma oferta coletiva e não individual. Toda escola oferece um mundo múltiplo, não o meu mundo mitigado e apequenado.
Se a escola e a família possuem essas diferenças, é saudável que as famílias busquem dentro de suas condições, quais são as redes e as instituições que mais se adaptam ao esperado. E, se nada disso for encontrado na sua região, o que a família pode fazer para que, garantindo o direito da educação não, dilua a escolha orientativa daquele núcleo família. Tarefa difícil. Trabalho árduo.
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