Quem nunca quis ter a habilidade de prever o futuro, não é mesmo? Ao pensarmos em educação, é crucial que profissionais desta área busquem alinhar sua abordagem e proposta de ensino com foco em formar cidadãos conscientes e, ao mesmo tempo, profissionais qualificados para o mercado de trabalho do futuro. Se o emprego de amanhã será ocupado pelo educando de hoje, como podemos garantir que a educação atual desenvolva as capacidades necessárias a esses profissionais? 

Para entendermos como será o futuro, o segredo é olhar para o presente. Concepções do passado foram questionadas e deram espaço às novas ideias que são vigentes hoje. Ao olharmos para o presente, podemos identificar alguns conceitos ou algumas concepções que estão começando a ficar obsoletos ou sendo questionadas em suas funcionalidades. Essas são as brechas para entender como serão as transformações desses conceitos que darão espaço às novas ideias e visões de mundo no futuro. 

O processo de questionamento do que está posto para trazer uma transformação e vir a ser algo diferente no futuro também é conhecido como contradição dialética, ou seja, termo que remonta a métodos de argumentação da Grécia Antiga e que foi reinterpretado por muitos filósofos, como Sócrates, Jean-Jacques Rousseau e Immanuel Kant. No entanto, foi Georg Wilhelm Friedrich Hegel, filósofo alemão, em sua obra Fenomenologia do Espírito, de 1807, que trouxe a ideia de movimento ao termo como o conhecemos atualmente. 

Hegel acreditava que nenhum fenômeno está isolado, mas conectado a outros. Como exemplo dessa conectividade, vamos considerar uma árvore. Intrinsecamente conectada ao solo, ao ar e à luz que recebe, esta árvore só tem aquele formato porque todos esses elementos contribuem para isso, e, assim sendo, nenhum deles pode ser retirado sem afetar o todo. 

Para Hegel, entender a interdependência entre elementos é crucial para compreendermos a realidade. Na sua concepção, a realidade é um processo em constante evolução, no qual forças conflitantes interagem para criar algo novo. Assim, o conceito da dialética consiste em três passos: tese, ou seja, algo posto ou um conceito existente; antítese a um questionamento ou uma contradição ao que está estabelecido e síntese, que é a resolução que surge dessa contradição. 

Como podemos entender a dialética pelo viés da educação? É possível perceber que as antagonizações aos padrões educacionais em cada época da história trouxeram questionamentos ao processo vigente, culminando em uma transformação e resultando em novas formas de pensar e atuar na educação. Foram algumas voltas no espiral educacional para chegarmos ao modelo e à concepção de ensino-aprendizagem que temos atualmente. Cada transformação ocorrida só foi possível porque havia um padrão vigente que foi refutado e, em seguida, reformulado, resultando em algo novo. 

Além de termos visto como a dialética nos ajuda a compreender a evolução das concepções de educação que tivemos ao longo dos séculos, este conceito também pode ser utilizado como ferramenta ao trabalhar com metodologias ativas de aprendizagem, trazendo um olhar dinâmico para o processo educacional. 

Ao longo da história, diversas abordagens educacionais usam variados métodos para incentivar os alunos a desenvolverem o pensamento crítico. Aplicar esse conceito da contradição dialética na educação, propondo vivências para debater sobre problemas e buscar soluções, possibilita que os alunos compreendam diversas perspectivas a respeito de qualquer tópico, ao mesmo tempo em que desenvolvem o pensamento crítico e as habilidades para solução de problemas. 

É possível utilizar esse conceito também para nos impulsionar a proporcionar ainda mais essa horizontalização do ensino-aprendizagem, centralizando o educando nesse processo e promovendo seu desenvolvimento de maneira integral. 

Uma das aplicabilidades da contradição dialética se dá ao utilizar a Aprendizagem Baseada em Problemas, que tem como premissa oferecer situações problema em contextos práticos para os alunos aplicarem seus conhecimentos de modo transdisciplinar e chegarem a possíveis soluções. 

Ao contrário do que parece, a contradição dialética na educação vai muito além das aulas de História, Sociologia ou Filosofia. Um exemplo de aplicabilidade seria trazer aos alunos o desafio de identificar possíveis problemas em seus municípios ou alguma melhoria que possa ser feita na escola, ou, até mesmo, sugestões de como minimizar a contaminação por doenças. 

Ao promover o pensamento por meio de contradições ou ideias opostas, desenvolvemos crianças com mentes mais abertas, pensando “fora da caixa”. Ao aprender a observar e analisar diversos pontos de vista sobre um mesmo tópico, desenvolvemos a capacidade de ponderar visões, viabilizando o raciocínio lógico por meio da conexão de ideias para a resolução de problemas. 

Possibilitar que os alunos tenham a chance de ponderar diferentes formas de enxergar uma questão, um problema ou uma situação desenvolve empatia e respeito à opiniões e às visões de mundo diferentes, nutrindo habilidades sociais e contribuindo para um maior engajamento entre estudantes e educador. 

O relatório Future of Jobs Report, de 2023, do Fórum Econômico Mundial, trouxe uma pesquisa sobre as habilidades que serão necessárias a profissionais de um futuro próximo, e entre elas, estão: criatividade, pensamento crítico, capacidade de análise, resolução de problemas, autogerenciamento, resiliência e flexibilidade. 

Sabemos que temos um abismo entre a educação pública e a privada no cenário educacional do Brasil, que inclui qualidade, valorização do educador e infraestrutura, por exemplo. No entanto, trazer abordagens diferenciadas para o que vem sendo feito, principalmente no ensino público, é essencial para diminuir esse abismo e começarmos a construir pontes. 

De acordo com esse cenário, a contradição dialética pode ser uma ferramenta valiosa para fomentar uma educação onde o aluno se torna cada vez mais autônomo, desenvolvendo, assim, crianças criativas, com pensamento crítico, capacidade de análise e discernimento. Essa combinação favorece não só o desenvolvimento de alunos mais conscientes e um ambiente escolar mais harmonioso, mas também cidadãos que entendem sobre respeito e diversidade e que serão eleitores mais conscientes e criteriosos, contribuindo para uma sociedade mais justa, humana e consciente. 

É pensando no desenvolvimento de pessoas mais tolerantes e criativas que a Planneta Educação, do grupo Vitae Brasil, oferece soluções educacionais que visam a formação de crianças em todas as suas potencialidades, proporcionando educação inovadora hoje aos cidadãos e profissionais do futuro.

Autora: 

Carmelita Fleury Croce Barabasz. Possui Graduação em Ciências Sociais, Bacharel em Sociologia e Especialização em ensino de Língua Inglesa pela Cambridge – English Language Assessment.

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