Quais são as suas lembranças felizes do tempo de estudante? A maioria das pessoas responde essa pergunta citando amigos de infância ou professores inspiradores.

A escola é um ambiente vivo, é muito mais do que um espaço de transmissão de conhecimento, é um verdadeiro laboratório de relações humanas.  

É na escola que aprendemos a respeitar as diferenças e lidar com elas, a resolver conflitos e a construir laços duradouros.

Em um mundo cada vez mais conectado, as habilidades socioemocionais, como empatia, comunicação, solidariedade e trabalho em equipe, tornaram-se extremamente valiosas. E é na escola que essas competências começam a ser desenvolvidas.

Ao promover a interação entre os alunos, a escola cria um ambiente propício ao desenvolvimento dessas habilidades, preparando crianças e jovens para serem cidadãos mais conscientes e engajados.

Pesquisas mostram que a qualidade das relações de amizade na escola está diretamente relacionada ao desenvolvimento da autoestima, da empatia e da resiliência emocional. Alunos que possuem boas amizades tendem a apresentar menores índices de depressão e ansiedade, além de um maior engajamento nas atividades escolares.

Todavia, o que vemos? Em grande parte das escolas brasileiras ainda há uma predominância na simples transmissão de conteúdos, uma valorização do erro como algo negativo e um grande estímulo à competição. Casos de bullying e violência são tratados como algo irrelevante e crescem os índices de crianças e jovens com problemas emocionais e psíquicos.

Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) mostram que, apesar de haver progressos em algumas áreas, o Brasil ainda apresenta um desempenho abaixo da média em habilidades como resolução de problemas, pensamento crítico e colaboração, que estão diretamente relacionadas às habilidades socioemocionais.

Estudos nacionais e internacionais apontam para um aumento significativo dos casos de bullying e violência nas escolas. O impacto dessas práticas vai além do sofrimento individual, afetando o clima escolar, o desempenho acadêmico e a saúde mental dos estudantes.

Os problemas de saúde mental entre crianças e adolescentes têm se intensificado nos últimos anos. Fatores como a pressão por resultados, a exposição constante às redes sociais e a falta de suporte emocional contribuem para o aumento de casos de ansiedade, depressão e outros transtornos.

O que podemos fazer? De nada adianta comemorar o Dia da Amizade e não buscar soluções amigáveis nas diversas relações existentes no dia a dia escolar.

Criar um ambiente escolar positivo e acolhedor, onde os estudantes se sentem emocionalmente seguros, perpassa pela formação inicial e continuada dos professores. É fundamental que os educadores sejam capacitados para lidar com as questões socioemocionais dos alunos e para implementar práticas pedagógicas inovadoras.

Dados do relatório da UNESCO indicam que escolas que implementam programas de mediação de conflitos e educação socioemocional registram uma redução significativa nas ocorrências de bullying e violência.

Assim sendo, é urgente que as escolas implementem projetos e atividades voltadas para a construção de um ambiente mais pacífico, solidário, amigável e cooperativo, como “Círculos de Paz” e “Roda de Conversa”.

As Artes também têm sido utilizadas com sucesso para promover vínculos afetivos e potencializar habilidades socioemocionais. As atividades artísticas permitem que os alunos explorem e expressem suas emoções de maneira segura e criativa, fortalecendo seus vínculos afetivos. As Artes têm o poder de criar um espaço inclusivo onde diferentes culturas, backgrounds e perspectivas podem se encontrar e se expressar.

A cultura da escola desempenha um papel crucial, aquelas que cultivam um ambiente inclusivo, onde os valores de respeito, solidariedade e cooperação são enfatizados, têm alunos que desenvolvem melhores habilidades sociais e emocionais. Essas escolas geralmente implementam políticas e práticas que incentivam a participação ativa dos alunos em decisões escolares, promovem a diversidade e celebram as conquistas individuais e coletivas.

Com tudo isso nos resta escolher entre comemorar o dia da amizade de forma rasa ou pautar esta e todas as demais comemorações em projetos que visam a formação de indivíduos mais equilibrados, empáticos e preparados para os desafios da vida.

A mudança começa conosco, com cada um de nós assumindo o compromisso de construir um futuro mais justo e humano.

Cada sorriso, abraço, escuta ativa, olhar sensível, cada palavra de apoio, cada ação consciente e humanizadora na escola faz a diferença.

É desafiador, porém possível, transformar a escola em um lugar onde todos se sintam parte e possam alcançar seu pleno potencial, sem luta de egos, mas de mãos dadas.

Paty Fonte. Arquivo pessoal

Paty Fonte. Consultora Educacional, Filósofa, Escritora e Palestrante. Autora de diversos livros, dentre eles: ‘Competências Socioemocionais na Escola’ e ‘Práticas Socioemocionais para Dinamizar o Ambiente Escolar’. Ambos publicados pela WAK Editora. Coautora do livro: ‘Socorro, meus filhos estão crescendo!’ da Editora Nelpa. 

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