No Índice de Inclusão Global (GDI), relatório anual publicado pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil apareceu em 2023 na constrangedora 60ª posição entre os países respeitosos — ou desrespeitosos, sublinhe-se — com as diferenças.
Por esse dado percebemos o quão difícil é a luta da pessoa com deficiência para transformar uma sociedade. Felizmente, nas Paralimpíadas, o Brasil tem descontado no quantitativo de medalhas de ouro, prata e bronze.
Aparentemente percebemos isso como imensa contradição e talvez, nos perguntamos por quê? Por que pessoas com deficiência não possuem mais patrocínios ou mais apoio? O que a nossa sociedade denuncia ao “esconder “as pessoas que não atendem a um falso padrão normalidade beleza?
Sabemos que várias deficiências são causadas pela violência aparente ou velada em uma sociedade e, em nos nossos corpos. Pessoas desenvolvem deficiências por acidentes, doenças, balas perdidas, almas feridas, almas que sagram pelo dor, abandono e descaso, porque não foram acolhidas e cuidados no tempo certo/ vacinadas, cuidadas, acolhidas, amparadas nutridas… contraditoriamente, alguns brasileiros, (não em sua maioria), conseguem vencer o fosso tão profundo de violências, dificuldades e falta de apoio.
Sabemos que não existe receita do bolo. Talvez, somente talvez, algumas atitudes e músicas acolham desejos tão profundos e, nos façam transpor tantas barreiras em chegar ao pódio. Alguns chamam de Resiliência, outros chamam de superação, eu, enquanto pessoa com deficiência, posso chamar de desejo profundo, de propósito de transformação e, muitas mãos que me promoveram o pão, força, coragem e inspiração.
As Paralimpíadas sempre foram uma fonte de inspiração e desejo, principalmente porque nos fazem acreditar que o pódio é o nosso lugar. Não é só para Pedros e Paulos e sim para Joanas, Marias e todos nós com e graças as nossas diversidades, com e graças ao nosso desejo, com e graças às atitudes que nos fazem acreditar naquela força que nos dá força para desfazer os “nós” e acreditar na força que já existe dentro de nós. Alguns, encontram com muita sorte, na educação escolar, às vezes e, sublinho novamente, com muita sorte, na educação que vem do próprio lar.
Quando a escola e o nosso lar nos mostram referências positivas de inclusão e superação e somos tratados e cuidados como iguais na diferença e diferentes na singularidade, como pertencentes a esses diversos espaços, conseguimos nos inspirar, quebrar estereótipos romper barreiras mostrando que podemos ser e alcançar o melhor de nós.
Sensibilidade, confiança, respeito e empatia são mudanças atitudes que todas sociedade precisa para perceber que o outro que está na nossa frente do nosso lado atrás de nós é também um elo que nos liga e nos constrói enquanto a sociedade, enquanto comunidade terrena, enquanto fios da diversidade.
E, talvez, sirvamos para outros não somente de inspiração, e sim, outro elo de cooperação que nos passamos envolver e pertencer a uma grande sociedade. Pois, quando convivemos entre pares, na escola e os nossos lares encontramos motivo para fortalecer a nossa autoestima, a nossa autoconfiança, consequentemente, a do outro, a nos envolver e nos desenvolver em comunidade.
Quando, crianças e adultos se envolvem em atividades físicas e esportivas em suas escolas e clubes ou qualquer outro espaço, se sentem pertencentes. Atividades esportivas além de terem a finalidade de promoverem uma vida ativa e saudável, tanto física, como emocionalmente.
Igualmente, poderíamos pensar que, integrar o conceito de cooperação e superação de si mesmo que as paralimpíadas nos trazem, ao currículo escolar transdisciplinar, pudéssemos perceber que a diversidade é parte integrante de todo uma sociedade.
Também, quando mostramos que nos jogos paralímpicos várias adaptações (também conhecidas como tecnologias assistivas), são utilizadas, afirmamos que cada um é único e, merece exercer a suas habilidades, como todos os outros.
Nisso, descobrimos que todos nós podemos potencializar as habilidades que desejamos, quebrando barreiras de vida, superando fronteiras e desafiando culturas engessadas e preconceituosas.
Se competir é importante, cooperar é fundamental para que cheguemos todos juntos na reta final.
Maria Dolores Fortes Alves é professora, doutora em Educação, mestre em Educação, mestre em Psicopedagogia e pedagoga. Entre os livros lançados estão “Favorecendo a inclusão pelos caminhos do coração” e “Práticas de Aprendizagem integradoras e inclusivas”. Ambos pela Wak Editora.