Segundo uma reportagem recente da CNN, cerca de 65,1% dos estudantes brasileiros se sentem ansiosos com a possibilidade de reprovar em matemática, conforme dados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) 2022. O estudo, realizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), publicado na quarta-feira (13/12), revelou que a média de ansiedade entre os países do grupo é de 54,8%.
Embora pareça um assunto novo, a questão do medo, repulsa e fuga de situações que envolvem a matemática é algo antigo. Afirmo que os estudos sobre Ansiedade Matemática começaram em meados de 1957, sendo, em grande parte, internacionais. No Brasil, esses estudos tiveram início na década de 1980 no campo da psicologia, demorando para ser incorporados ao campo da Educação, especialmente na Educação Matemática.
Interessada no tema, estudei sobre o assunto e defendi minha tese de doutoramento nessa área em 2023. Atualmente, a autora estuda a Ansiedade Matemática no ensino. Visto que não é só o estudante que pode ter Ansiedade Matemática, o professor também pode experimentar uma série de aspectos e emoções relacionadas ao processo de ensino e aprendizagem, incluindo a Ansiedade Matemática no ensino.
Mas o que é a Ansiedade Matemática? É, simplesmente, o medo, a repulsa, a fuga e a aversão a tudo que se relaciona com a matemática, desde as aulas até ver um livro de matemática, realizar uma conta para dividir uma despesa, ou qualquer outra atividade que envolva a matemática.
A Ansiedade Matemática apresenta duas dimensões diferentes: a dimensão cognitiva que se refere à preocupação com o próprio desempenho e com as consequências do fracasso e a dimensão afetiva refere-se à tensão em situações que envolvam a matemática.
Mapeei os estudos relativos à Ansiedade Matemática e identifiquei padrões comportamentais de risco que podem se manifestar em estudantes no contexto educacional ou cotidiano. Esses padrões afetam a cognição (falhas na memória, problemas de atenção, alterações na percepção), a afetividade (medo, agressividade, irritabilidade, esquiva, insegurança, nervosismo) e o aspecto fisiológico (desarranjo gastrointestinal, sudorese, taquicardia, dor de cabeça, insônia).
Existem também fatores ambientais que podem desencadear padrões de comportamento relacionados à Ansiedade Matemática, como o controle rígido do professor, metodologias de ensino inadequadas, ameaças ou situações constrangedoras em sala de aula, além do reforço por parte de familiares e da escola, que frequentemente reforçam a ideia de que a matemática é difícil e impõem regras inadequadas às crianças, promovendo a ideia de que há uma única solução para cada problema.
Essas condições ambientais não se relacionam diretamente ao saber matemático que o estudante possui, mas podem influenciar seu desempenho em matemática.
Além disso, as atitudes, crenças e concepções dos professores de matemática podem influenciar as atitudes dos estudantes, contribuindo para a Ansiedade Matemática, que pode perdurar ao longo do percurso educacional, incluindo na universidade. Isso pode resultar em futuros professores com baixo desempenho em atividades matemáticas.
Professores que vivenciaram situações negativas na infância podem desenvolver Ansiedade Matemática no Ensino, caracterizada pela tensão ao ensinar conceitos matemáticos, teoremas e resolução de problemas. Esses professores tendem a ensinar menos matemática, adotando métodos tradicionais e ineficazes, o que pode afetar negativamente o aprendizado dos estudantes.
Constatei que os professores da educação infantil têm um nível mais alto de Ansiedade Matemática do que os professores que atuam nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, porque se sentem ansiosos em ensinar os conteúdos mais difíceis da matemática.
No entanto, uma descoberta positiva é que práticas de ensino eficazes podem quebrar esse ciclo de Ansiedade Matemática e melhorar o desempenho tanto dos professores quanto dos alunos. Logo, diversas abordagens podem ajudar a reduzir a Ansiedade Matemáticado estudante e melhorar o aprendizado. Terapias que visam aumentar a motivação, controlar pensamentos negativos e estimular o treino cognitivo. O uso de brincadeiras, dinâmicas, jogos on-line, aplicativos e softwares na sala de aula tornando a matemática mais. Recursos como jogos de tabuleiro, tecnologia e a história da matemática ajudam a melhorar o aprendizado e a motivação. Programas de intervenção, como o ensino individualizado e técnicas terapêuticas de redução de ansiedade, também são essenciais e devem ser implementadas durante os anos escolares para evitar o fortalecimento da Ansiedade Matemática
Ana Maria Antunes de Campos possui Pós-Doutorado e Doutorado em Educação Matemática pela PUC-SP. Autora dos livros: Jogos Matemáticos; Discalculia; Aprendizagem Matemática e Raciocínio Lógico pela WAK Editora.