Entenda as diferenças entre comportamentos infantis comuns e o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD).

A criança hoje não é tão passiva em décadas passadas, ela possui um papel ativo na sociedade e nas relações, e isso é melhor observado tanto na escola como no ambiente familiar.

E, junto com essa evolução também vieram acompanhados alguns fatores que se não forem equilibrados podem causar problemas no cotidiano, até porque envolve a importância em permanecer com as regras e validar o quanto são essenciais para uma relação respeitosa em sociedade, e isso é construído ao longo do desenvolvimento infantil.

A criança pode e deve ser protagonista na relação, mas isso não impede que os adultos sejam favoráveis e responsáveis por esse desenvolvimento, já que a criança está em desenvolvimento e precisa de apoio nessa construção diária.

Com isso, é importante manter uma relação segura e equilibrada, e não uma relação de permissividade e vulnerabilidade, onde os adultos se percam no processo de educação de seus filhos.

O impacto do comportamento infantil no ambiente escolar

No ambiente escolar, a desobediência tem sido um sinal de alerta para várias outras situações e muitas vezes tem dificultado o processo de ensino e aprendizagem, por trazer situações desagradáveis nas interações.

Crianças desobedientes apresentam comportamentos muitas vezes negativistas ou agressivos, não aceitam regras, não conseguem lidar com frustrações e estão a todo momento desafiando professores e demais adultos da relação.

Isso tem se tornado muito mais comum do que as pessoas possam imaginar, mas quem atua em escola sabe o quanto tem sido algo frequente e bastante desafiador.

Diferença entre birra e Transtorno Opositivo Desafiador (TOD)

Muitos desses comportamentos precisam ser avaliados com cautela num primeiro momento, para não serem entendidos  como algo comum ou como um transtorno de maneira equivocada.

É preciso reconhecer e diferenciar com assertividade o conjunto de características que envolvem a chamada “birra” e o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD). Afinal, ambas as situações podem ser notadas em momentos de discordâncias no cotidiano de uma criança, porém as causas e sintomas são diferentes. Nem sempre é transtorno associado ao TOD.

Por isso, é preciso desmistificar alguns detalhes, mas quando há certeza com relação ao diagnóstico, é de extrema importância começar o tratamento e o acompanhamento o quanto antes.

Outro ponto a se observar são as intensidades que ocorrem os comportamentos disruptivos e a frequência, isso faz toda diferença para entender se há ou não um possível diagnóstico.

O comportamento chamado popularmente de “birra” é algo que toda criança na primeira infância pode manifestar. Aliás, a melhor definição de “birra” é que se trata de um comportamento imaturo e passageiro, expressado por uma criança que está aprendendo a lidar com os “nãos” e com suas emoções.

Geralmente, a criança se utiliza desse comportamento como uma maneira de demonstrar que deseja conseguir algo e quando não é possível, chora, grita, bate as mãos ou até joga objetos, o que não quer dizer que por ser algo esperado na primeira infância não seja necessária a intervenção de forma qualitativa do adulto da relação, pontuando o que é possível ou não para o momento e impondo limites de forma inteligente e humanizada, pois isso ajudará na construção maturacional da regulação emocional da criança.

Na “birra” os sintomas são passageiros e facilmente sanados após intervenção de um adulto. Já nas possíveis situações que podem ser entendidas como transtorno, o comportamento desregulado vai muito além de uma simples “birra”, aumenta em intensidade e frequência e mesmo com a intervenção dos adultos, tais comportamentos tendem a aumentar e envolve agressividade, raiva, explosões emocionais, falas e comportamentos desafiadores, vingativos, argumentadores de forma negativa e raivoso.

A importância do diagnóstico precoce e acompanhamento adequado

Essas são algumas das características que fazem parte do TOD e precisam ser observadas para ajudar no processo de avaliação clínica. Para chegar ao diagnóstico de Transtorno Opositivo Desafiador é necessária uma avaliação comportamental com uma equipe multidisciplinar, incluindo as observações diárias dos professores enquanto equipe pedagógica e o olhar diferenciado do profissional da Psiquiatria Infantil.

É importante ressaltar que quanto mais tarde for feito o diagnóstico e o início do tratamento, piores serão os sintomas e mais difícil será a qualidade de vida do paciente e de todos que fazem parte de seu convívio, por isso é tão importante ajudar nesse processo. O TOD é um transtorno neuropsíquico de comportamentos disruptivos, que faz parte de um grupo de transtornos de impulsos e de conduta.

Pode ser observado durante o desenvolvimento infantil em níveis e categorias diferentes. Independentemente das formas diferentes de categorizar o transtorno, o importante é conhecer os sinais de alerta, as características e os possíveis prejuízos causados no dia a dia, para que o diagnóstico seja realizado de forma correta e sem possíveis equívocos.

Conhecer sobre o Transtorno Opositivo Desafiador e sobre o que não seria o transtorno, é de extrema importância para que possamos entender o indivíduo em sua totalidade e reconhecer o que vêm ocasionando prejuízos nas relações, para que possamos ajudar e orientar familiares, pais e educadores em busca da qualidade de vida do sujeito, afinal existe uma história de vida em formação.

Lembre-se, nenhum diagnóstico será um ponto final na vida de alguém, muito pelo contrário. Um diagnóstico seja ele qual for, será sempre um ponto de partida para novas estratégias e para auxiliar no novo caminho a seguir.

Alessandra Machado é psicóloga, neuropsicóloga, pedagoga, mestre em Intervenção Psicológica no Desenvolvimento Humano e na Educação. Autora do livro ‘Falta de limites, “Birra” ou Transtorno? Como identificar? O que fazer? Vamos entender o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD)” (Wak Editora).

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