A profissão de Orientador Educacional no Brasil surgiu como resposta às transformações sociais e educacionais ocorridas ao longo do século XX. Com a expansão da escola pública e a necessidade de atender a uma população estudantil cada vez mais diversa, tornou-se evidente a importância de um profissional capaz de atuar no desenvolvimento integral dos alunos, indo além do ensino de conteúdos curriculares. Inspirado por modelos norte-americanos de orientação vocacional e educacional, o papel do orientador começou a ser delineado no Brasil por volta da década de 1940, com a promulgação da Lei Orgânica do Ensino Secundário (Decreto-Lei nº 4.073/1942), que preconizava a assistência ao estudante em sua formação pessoal e social.
O Orientador Educacional atua como mediador entre alunos, professores, família e comunidade, promovendo o acompanhamento individual e coletivo dos estudantes e contribuindo para a construção de ambientes escolares mais humanizados e inclusivos. A profissão consolidou-se através da Lei 5.564, de 21 de dezembro de 1968 como fundamental para a promoção do desenvolvimento pleno do educando e para a democratização do acesso ao conhecimento e ao exercício da cidadania.
Tradicionalmente, a atuação do Orientador Educacional estruturou-se em três eixos, cada uma com seus próprios pressupostos e objetivos. No modelo centrado no aluno, a premissa é que as inadaptações escolares resultam de questões inerentes ao próprio estudante e, por isso, adota um enfoque psicológico. Trabalha com diagnósticos e busca ajustar o aluno à escola, otimizar a aprendizagem e desenvolver o autoconhecimento, refletindo um valor intrínseco à ideologia liberal que cultua o individualismo.
Já o modelo centrado no professor entende que os problemas emergem da relação professor-aluno, e adota um enfoque psicossocial. O diagnóstico avalia as interações interpessoais por meio de observações e entrevistas, e os objetivos explícitos incluem minimizar dificuldades relacionais e fomentar um clima educativo mais favorável, alinhando-se à ideia de igualdade de oportunidades.
A abordagem centrada no contexto amplia a perspectiva, considerando que a origem dos conflitos escolares está no contexto social que envolve o aluno que inclui, essencialmente, a escola, a família e a comunidade, utilizando um enfoque sociológico. O diagnóstico é institucional, analisando as características socioeconômico-culturais. Seus objetivos visam contribuir para a formação de um espírito crítico-reflexivo em todos os envolvidos na ação educativa e valorizar o ser humano como um indivíduo consciente e atuante em seu próprio contexto.
Atualmente, para que tenha uma atuação efetiva, o Orientador Educacional precisa conjugar quatro olhares essenciais para a escola: o olhar psicológico, o olhar pedagógico, o olhar psicopedagógico e o olhar sociopolítico. Através do olhar psicológico, o OE vislumbra e atua nas potencialidades vocacionais, no desenvolvimento das competências socioemocionais e nos desvios comportamentais. O olhar pedagógico é fundamental para que o Orientador perceba e atue no sentido de minimizar os entraves ao processo de aprendizagem.
O aumento considerável do número de alunos com deficiência, assim como a necessidade de construção de uma escola cada vez mais inclusiva impõe a necessidade de o orientador educacional desenvolver um olhar psicopedagógico que o coloca diante das dificuldades de aprendizagens, das adaptações pedagógicas e de diversos tipos de transtornos e síndromes. Por fim, a pluralidade étnica, cultural e sexual obriga o OE a desenvolver um olhar sociopolítico, através do qual ele garante que a escola seja um espaço de respeito às diferenças e que garanta um espaço de diálogo entre elas.
Uma forma de o Orientador Educacional atuar de maneira abrangente, privilegiando todos os olhares necessários para que realize um trabalho efetivo na escola é focar nas relações que se estabelecem no espaço escolar no sentido de construir e manter relações de qualidade que sejam facilitadoras da aprendizagem. Ao trabalhar as relações intrassubjetivas e intersubjetivas, ele trabalhará com foco no desenvolvimento socioemocional e relacional. Na medida em que trabalha as relações extraescolares, o OE atua na interface sociopolítica e dessa forma, integraliza seu campo de atuação.
Júlio Furtado é Pedagogo, mestre em Educação, doutor em Ciências da Educação, palestrante e escritor. Consultor educacional e Orientador Educacional do Colégio Professor Anselmo (RJ).