Um professor ásiatico sorrindo e batendo a palma contra a da aluna sorridente (o famoso "toca aqui").

Educar significa ensinar apenas o que está previsto no conteúdo programático? Ou representa uma ação muito mais ampla e significativa, através da qual ensinamos saberes relacionados as áreas do conhecimento, valores, ética, postura e atitude diante da vida?/p>

Creio que não há dificuldade para nenhum educador quanto a opção correta no que tange as perguntas apresentadas acima.

Educar representa ação de impacto amplo, através da qual desvendamos os caminhos do conhecimento criado pela humanidade e, ao mesmo tempo, estamos propondo valores, postura, atitude e ensejando o caráter de nossos alunos.

Não pense o professor que estiver lendo este artigo que basta ser ótimo em matemática, ciências, línguas ou humanidades para ser considerado um educador de fato.

O educador consciente, que tem postura e atitude pessoal e profissional dignas de sua profissão é aquele que enxerga suas ações imediatas e a repercussão futura de suas aulas, encontros e projetos com os alunos para estes indivíduos e para toda a sociedade num futuro próximo.

É comum que professores, depois de anos, encontrem seus alunos, já formados, atuando como advogados, dentistas, engenheiros ou administradores de empresas, tendo carreiras em curso, atingindo boas posições e resultados, conseguindo sucesso naquilo que fazem e que não percebam que, além daquilo que era sua responsabilidade mais imediata, o ensino da língua portuguesa ou da geografia, por exemplo, ensinou a seus alunos aspectos como pontualidade, esmero, dedicação, lealdade, responsabilidade…

Por vezes, estes educadores até se surpreendem com retornos que recebem de seus ex-alunos a lhes contar que aprenderam a ser mais respeitosos, humanos, afeitos a cultura, éticos, socialmente engajados ou outras qualidades a partir do que vivenciaram em suas aulas…

Não é a miopia que leva estes docentes a não perceber o quanto foram significativos para seus alunos, é apenas a constatação de que agiram de forma correta, trazendo valores, ensejando comportamento ético, ajudando a construir postura profissional e cidadã entre os alunos a partir do exemplo diário, de falas complementares, de histórias de vida trazidas ao contexto escolar por parte do educador, das metodologias de trabalho que emprega, do uso de ferramentas diversificadas em suas aulas ou ainda por promover uma cultura de busca, curiosidade intelectual e trabalho cooperativo, com projetos em grupos, por exemplo.

Ir além da disciplina significa ensinar, portanto, pelo exemplo. E aqui temos a questão da postura e da atitude corretas. Pequenos movimentos do cotidiano são percebidos pelo consciente e inconsciente do aluno, para o bem e para o mal.

Se, por exemplo, o aluno nota que o professor não se preocupa em chegar antes do início da aula, para garantir a pontualidade do compromisso e o tempo integral de dedicação à formação que deve oferecer a estes estudantes, é evidente que falta compromisso profissional. Pense nesta ação dia após dia e como isso vai ficando na memória do aluno, ainda mais se, de algum modo, há algum respeito e admiração dos estudantes em relação a este professor…

Se por outro lado o educador é compromissado, demonstra respeito pela instituição e por seus alunos, chegando sempre antes do início da aula, tendo planejado previamente suas ações, consciente dos caminhos que pretende percorrer nas aulas que irá ministrar, tendo atitude de compreensão e apoio em caso de dúvidas de seus alunos, usando o diálogo como ferramenta essencial de trabalho e tantas outras ações que demonstrem seu profissionalismo e zelo pela educação e pelas pessoas com as quais trabalha, que imagem irá permanecer no inconsciente de seus pares e pupilos?

A educação se processa no simples fato do educador ler com frequência e trabalhar com a informação adquirida nesta leitura, de jornais ou revistas, artigos científicos ou livros especializados, de quadrinhos ou literatura ou mesmo de uma leitura mais ampla, realizada pela ida a museus, por meio de viagens, por filmes que são assistidos, espetáculos de música ou dança que frequenta, peças teatrais que prestigia…

Ao adquirir esta cultura e compartilhar com seus alunos, enriquecendo suas aulas e promovendo o interesse, a disponibilidade, a procura por informações sobre diferentes saberes, além daqueles que estão nos livros didáticos, o educador se diferencia e se torna uma referência que colabora com seus alunos para além daquilo que o currículo preconiza.

E é exatamente isso que se espera de um educador e não apenas a mesmice dos conteúdos, a repetição de dados – ano após ano, a acomodação numa das mais necessárias e nobres ações realizadas pelo ser humano, a educação.

Educar significa oferecer novos mundos para os estudantes, fazendo com que eles entendam o universo em que estão inseridos, possam colaborar para a construção de um amanhã melhor para todos, sejam capazes de perceber os processos que estão por trás daquilo que é próximo ou distante, possam elaborar leis justas ou criar conceitos científicos novos que ajudem outras pessoas, se engajem em lutas dignas, atuando de forma ética e cidadã, em prol da paz, da dignidade humana e da justiça.

Neste sentido, o educador que se limita aos conteúdos está sempre em dívida com a sociedade, com seus alunos e, até, consigo mesmo. Ele não compreendeu, a fundo, que a educação é uma oportunidade inigualável para ele e para todos, tanto aqueles que estão no seu raio de visão mais imediato, como para pessoas do outro lado do mundo ou, até mesmo, de futuras gerações com as quais nunca terá contato. Já imaginaram que suas atitudes podem ajudar um estudante a se interessar tanto por ciência que ele venha a criar fórmulas para curar doenças que até o momento ainda não foram descobertas? Ou ainda que de sua sala de aula pode surgir um grande e imortal escritor? Porque não investir a fundo para que, amanhã, ao se encontrar com seus alunos na rua, eles já adultos, formados, tendo alcançado sucesso na vida, cruzem a rua em sua direção, apresentem você para a família deles e digam que suas aulas e caráter o inspiraram a ser quem ele(a) é?

Não é isso que buscamos, de fato, mas o reconhecimento nos ajuda a perceber o quanto fomos marcantes e decisivos para nossas turmas de alunos e, especificamente, para cada um deles. Temos que deixar um legado mais rico, com aulas e conteúdos também, mas com lições que são escritas por meio da postura e atitude diária que temos juntamente a estes alunos. Daí sim teremos realizado com riqueza o trabalho a que nos propusemos de fato, tendo concretizado uma educação significativa e enriquecedora para todos os envolvidos.

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