O ensino privado, em todos os níveis, enfrenta também as consequências da crise econômica e financeira a que o país foi levado por atos e omissões, por boas e más intenções. A inadimplência, o trancamento de matrículas, o simples abandono, preocupa não apenas os diretamente envolvidos, mas todos os que pensam no futuro do Brasil. Mesmo os que têm seus filhos no ensino público estão cientes de que o Estado não tem recursos para atender a todas as demandas educacionais, que se somam àquelas por saúde, segurança, transporte e outros quesitos pelos quais é responsável.
Certamente estes alunos que abandonam o ensino pago farão imensa pressão sobre o ensino público, gerando necessidade de contratação de mais professores e trazendo, ao lado do fator positivo – cobrança de maior qualidade, recursos para laboratórios e acervos de biblioteca –, ao mesmo tempo uma série de inconvenientes, por falta de opções confessionais, escolha de muitas famílias, ou mesmo de distintas orientações e metodologias.
Este é mais um dos aspectos amargos da instabilidade política, que acarreta instabilidade econômica, desaceleração do crescimento, desenfreado crescimento do desemprego, receio em relação ao futuro, ausência de perspectivas de médio prazo ao sistema educacional.
Imersos na corrupção no plano interno, e no terrorismo no externo, temos consciência do quanto este intrincado momento envolve não apenas o universo de gestores escolares, professores e alunos, mas também dos políticos e administração pública.
Sejam aqueles que encaram a formação educacional como possibilidade de exercício de cidadania, conhecimento dos direitos e deveres democráticos, além da formação profissional propriamente dita, visando o preparo de todos para a consciência e a motivação de convívio numa sociedade mais livre e igualitária; sejam aqueles com uma visão mais produtivista, ou seja, de que escola boa é simplesmente aquela que atende ao mundo do trabalho com eficiência, além de instrumentação intelectual, a percepção é de que o país está com sérios problemas.
A crise econômica atual, bem pior que aquela da década de 1980, é generalizada, não apenas implicando no aumento da procura de mais educação pública, mas também de novos postos de saúde, atendimento gratuito em hospitais, aumento estapafúrdio da insegurança, provocando cortes de verbas, arrocho nos salários, mostrando que sem a recuperação do crescimento e um relativo equilíbrio orçamentário a solução é inalcançável.
Com os serviços sociais dependentes de recursos federais e estaduais praticamente em colapso, a exclusão aumenta exponencialmente. Sem termos sequer resolvido a premente questão do acesso universal à escola, sem conseguirmos vencer o vergonhoso analfabetismo ainda existente, sem educar as camadas mais desprivilegiadas para o pleno exercício de seus direitos políticos, sem possibilitar noções que permitam a correta fiscalização de impostos aplicados; ainda sob o império da valorização do “jeitinho”, complacência com os “espertos”, os que “levam vantagem em tudo”, os que “roubam, mas fazem”, e outras jabuticabas com as quais nos enganamos (e somos enganados), será difícil vencer a miséria e o despreparo para a convivência, numa era globalizada, de países avançados em tecnologia e bons índices de desenvolvimento humano.
Escolas públicas e privadas podem conviver perfeitamente numa nação republicana e justa, desde que ambas cumpram seus desígnios com seriedade e eficiência. Enquanto a defesa da educação se resumir em discursos e plataformas eleitorais, será complexo eliminar a pobreza. Sistema educacional de qualidade é tema para reflexão, qualquer que seja a visão ideológica de cada um de nós.