foto de Steve Jobs em preto e branco

Incendiários e bombeiros. Quem nunca escutou esta analogia quando as pessoas se referem a juventude e idade adulta. Mudar o mundo é o sonho e algo que se persegue de forma intensa quando se tem entre 15 e 30 anos. As estruturas operacionais do sistema que rege as ações são descortinadas por diversos meios, como leituras, filmes, aulas na escola, pela internet, conversas com amigos e, por conta disso, nesta faixa etária a ideia é revolucionar, fazer a diferença, tornar-se alguém que fará, de fato, a diferença por um mundo melhor.

Steve Jobs também foi um jovem impetuoso que, durante este período de sua vida, buscou as mudanças que, acreditava, iriam mudar o mundo para sempre. Viveu uma existência alternativa, foi para a universidade, desistiu do curso que fazia, buscou outros saberes, fez parcerias, viajou para outras partes do mundo… Jobs queria encontrar respostas e, ao mesmo tempo, construir alternativas que viabilizassem para as pessoas um futuro diferente daquele que surgia no horizonte, entre o final dos anos 1960 e início dos anos 1970. Todo mundo sabe no que deu, não é mesmo?

Sua história de sucesso, no entanto, é marcada por diferentes fases, entre as quais a inicial, na qual foi verdadeiro incendiário no tocante ao empreendimento notável que trouxe a vida, a Apple e seus computadores pessoais.

Ainda que ao vislumbrarmos tal narrativa nos deparemos com os méritos e láureas de Jobs e da Apple, o período que se estende dos anos 1970 a década seguinte coloca em evidência um empreendedor muito inteligente, sempre tentando (e tantas vezes conseguindo) perceber não apenas o movimento e o contexto de suas ações e realizações mas o que estava além de seu tempo. Jobs, porém, também passou a ser conhecido por seu destempero, dificuldade para lidar com as equipes, centralização de decisões, detalhismo, problema com prazos, perfeccionismo por vezes obsessivo…

Isso tudo, é certo, maculou a imagem do gênio criador da Apple ao mesmo tempo em que era enaltecido por seus projetos e produtos.

Sua demissão da Apple, da empresa que criou e pela qual tão lutou de forma tão aguerrida, foi o ponto de culminância, o momento exato em que o choque entre suas melhores e piores características aconteceu. E para Jobs, naquele momento, o pior aconteceu não apenas pela demissão, mas pelo fato de que sua imaturidade ofuscou suas capacidades e competências reconhecidas por todos.

Os anos seguintes, ainda que uma parte de Jobs permanecesse inquieta e sua impetuosidade por vezes aflorasse, foram marcados pela passagem desta adolescência e juventude explosiva e revolucionária para a construção de um líder igualmente visionário, criativo e genial que assumiu seu lado bombeiro, ou seja, amadureceu para nos anos seguintes fomentar o ressurgimento da Apple e sua transformação numa das maiores empresas de tecnologia de todos os tempos.

Somente o tempo foi capaz de toda esta transformação na vida de Steve Jobs?

Não. E é este o enfoque do livro “Como Steve Jobs virou Steve Jobs”, de Brent Schlender e Rick Tetzeli, jornalistas e editores especializados no universo das novas tecnologias nos EUA, publicado no Brasil pela Intrínseca.

A partir de uma visão privilegiada dos fatos, por terem acompanhado o surgimento desta indústria revolucionária no Vale do Silício desde os anos 1970 e 1980, contando ainda com entrevistas realizadas com o próprio Steve Jobs, ao longo de sua carreira, ou pelo fato de terem criado laços com o idealizador de produtos como o Ipad, o Iphone ou o IMac que vão além do âmbito profissional, o relato trazido no livro literalmente nos coloca diante de um Jobs que saiu do casulo para verdadeiramente se transformar e evoluir como pessoa e empreendedor.

O livro conta a trajetória de Steve enfocando não o sucesso ou a história de seus empreendimentos, mas sua história pessoal, a evolução de seus primórdios no mundo empresarial, quando era percebido como “empreendedor impetuoso”, até o final de sua vida, quando já era visto, percebido e sentido por todos como um líder visionário.

Não há milagres na história. O que se traz nos capítulos é a maturação do homem, passando de alguém que com pouca idade criou os pilares desta modernidade tecnológica vivida por todos os cidadãos do planeta hoje em dia e que, por conta disso, viu crescer sua vaidade ao mesmo tempo em que sua conta bancária engordava e sua influência igualmente crescia, para alguém que, a despeito de seu conhecimento e valor imensuráveis, viu seu mundo ruir e teve que se reconstruir.

E o processo de reconstrução, neste caso, se dá em meio a importantes transformações em sua vida profissional e pessoal. O casamento e os filhos, por exemplo, são elementos novos na vida de Jobs nos anos 1990 e dão outro rumo e significado para sua existência.

Empreendimentos como a Next, que não tiveram o sucesso esperado e a repercussão de seu passado recente na Apple também foram importantes para esta transição.

A aposta numa nova empresa, num segmento que não existia, o das animações digitais, com a aquisição e manutenção da Pixar, com o contato com novas lideranças com John Lasseter e Ed Catmull, entre outros, foi de muito aprendizado e crescimento.

O retorno a Apple, por sua vez, foi a prova de sua maturação como líder, empreendedor, criador e também nos novos relacionamentos profissionais que constituiu, como por exemplo com o designer Jony Ive e com o executivo Tim Cook, que seria o escolhido de Jobs para sucedê-lo na presidência da Apple. O fértil período em que retornou a empresa, no final dos anos 1990, começou numa época turbulenta para a empresa, que estava acumulando fracassos e dívidas e que via em Steve a possibilidade de reverter o quadro. Ele não decepcionou, não somente tirando a Apple do vermelho com suas novas diretrizes, mas também criando linhas de produtos que viraram itens icônicos, desejados em todo o mundo, pelos quais as pessoas fazem fila nas lojas da Apple, como o IPad ou o IPhone, e modificando toda a estrutura do negócio gerida até então pelos executivos da empresa.

“Como Steve Jobs virou Steve Jobs” é mais do que uma simples biografia, é uma história de superação, redenção e, acima de tudo, de crescimento e maturação. Confiram!

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