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Nostalgia. Conforme vamos ficando mais velhos é mais fácil ter esse sentimento já que nossas experiências de vida são tamanhas que livros poderiam ser escritos relatando cada momento. O primeiro beijo, o primeiro amor, uma festa de aniversário surpresa, momento com os pais e pessoas queridas, viagens, todos tendem a ser nostálgicos e trazem de volta o sentimento bom para compará-los com a situação atual. Embora pareça difícil de se evitar, para professores, nostalgia é uma armadilha perigosa relacionada à cognição tendenciosa, prejudicando a eficácia de nossas aulas.

Cognição tendenciosa é um truque de nosso cérebro que nos faz ser analítico unilateralmente, ver coisas sob uma única perspectiva. O que geralmente acontece com professores de inglês é a busca por erros… em outros. Com relação aos nossos alunos, muitos professores ainda apresentam esse erro técnico de se apontar deslizes dos alunos, deixando de lado seu progresso e sucesso, o que pode ser considerado uma grande armadilha pedagógica uma vez que esse comportamento tende fazer com que os alunos se sintam menos confiantes para produzir em sala de aula. Além disso, como um professor de inglês pode ter dados o bastante para checar o progresso se as crianças não falam, escrevem nem lêem porque estão com medo do feedback frequentemente negativo?  Outro fator dessa sede por erros que alguns colegas professores têm é a atitude de “eu não”. Muitos professores de língua inglesa no Brasil não pensam duas vezes antes de apontar problemas no trabalho de outros professores, nos planos de aula, atividades, postura em sala, mas falham ao auto-avaliarem suas próprias performances. Esse erro de atribuição fundamental não se aplica somente a outros colegas. Alguns professores culpam aparelhos eletrônicos, a tecnologia e esta é considerada inimiga quando deveria ser, e é, uma facilitadora, uma ferramenta para dar autonomia aos alunos no idioma alvo e em todas as tarefas que a língua inglesa oferece. Tempo também é um fator sempre presente para professores que têm dificuldades em serem críticos com seu próprio trabalho. Muitos educadores dizem não ter tempo suficiente para preparar aulas do com o nível de excelência que gostariam por causa do alto número de responsabilidade, aluno e escola que trabalham. Mas os professores têm, de fato, se sentado para preparar suas aulas?

A falácia do planejamento de aulas é outro tipo de conduta cognitiva tendenciosa que muitos professores de inglês acabam tendo. É de conhecimento geral os obstáculos que os educadores têm, as dificuldades de equilibrar a vida social da profissional, mas faz parte do nosso trabalho planejar aulas mesmo que isso signifique usar o tempo livre para sentar e explorar ao máximo o Google, dicionários online e corpora linguísticos. Falta de tempo não pode ser uma desculpa para uma aula mal planejada ou para o uso frequente da mesma atividade. O uso exagerado é muito comum quando um plano de aula é bem sucedido e, então, alguns professores tendem a se debruçar sobre ele, se esquecendo de analisar, de fato, se o planejamento funcionou ou não e enganam a si mesmos ao dizer que o resultado foi o esperado, embora uma resposta rasa influenciada por uma perspectiva tendenciosa. Nossa mente nos faz acreditar que tudo funcionou perfeitamente devido às experiências passadas bem sucedidas e, por isso, usamos o mesmo plano, a mesma atividade, tarefa sem parada para auto crítica.  Isso nos faz lembrar de outra armadilha que alguns professores de inglês acabam caindo: autoconfiança exacerbada. O sentimento de missão cumprida pode resultar em um comportamento que professores geralmente têm por terem aplicado a mesma atividade diversas vezes e por não mudar a abordagem, tornando-a obsoleta. A confiança é tão alta que alguns professores acabam rejeitando qualquer análise e feedback dizendo que seu modus operandi precisa de atualização, trazendo à tona justificativas e desculpas que foram antes mencionadas

Toda vez que olhamos para o passado, há uma grande chance se sermos injustos. A nostalgia no ensino é não somente injusta, ela impede a evolução e entendimento, pois educadores que caíram na armadilha não se esforçam para criarem a melhor aula, eles se encostam nos materiais didáticos e negligenciam o background dos alunos, sempre arrumam desculpas para um trabalho mal realizado e negam a própria desatualização. Como Judy Thompson disse em sua conta do LinkedIN “quando sabemos que não estamos ensinando de maneira eficaz, mas iremos perder nosso emprego se tentarmos mudar isso. Negação é escolher não aceitar fatos conhecidos” e o maior fator para isso é a relação estreita que alguns professores de inglês têm com o passado. Outro reformista educacional, Kelvin Oliver, concorda que nostalgia faz com que professores constantemente se refiram a alunos do passado, seus comportamentos, backgrounds e desafios como superiores aos que as crianças têm hoje em dia e a tudo que esteja relacionado à elas. Viver no passado é um erro grande, pois professores perdem uma ótima chance de melhorar suas próprias habilidades (caindo novamente em negação) ao não reconhecer as características da nova geração de alunos.   De acordo com o que Kelvin diz, negar a nova geração e se manter ligado ao passado, defendendo que antes tudo era melhor, faz professores se esquecer dos alunos do presente, o que têm a dizer, seus anseios, contexto e, como resultado, as aulas e atividades vem perdendo qualidade. As aulas de inglês no Brasil têm apresentado a mesma abordagem há mais de 25 anos em função desse efeito que a nostalgia tem sobre os educadores e ainda existem aqueles que se julgam inovadores porque utilizam slides em sala de aula ou por oferecerem atividades que os alunos gostam. Isso pode não estar gerando os resultados esperados, explorando todo o potencial dos alunos.

A nostalgia prepara armadilhas cognitivas que prejudicam as performances  dos alunos em sala de aula. Ela faz com que professores deixem de participar de seminários, workshops, não procurem por cursos de desenvolvimento profissional porque essas pessoas dizem não precisar disso pois se auto-proclamam atualizados, com abordagens bem sucedidas há mais de uma década e negam observações que apontam espaços para melhorias. Como resultado, o Brasil ainda tem alunos da rede pública, de escolas particulares e das chamadas “bilíngues” com performance em língua inglesa muito aquém. Professores, não caiam nessa armadilha. O passado, por melhor que possa ter sido, ficou pra trás e precisamos usá-lo como experiência, mas sempre aceitando as gerações por vir.

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