Cena do filme: Um laço de amor

Quando uma criança fica órfã e seu amanhã cabe a avós, tios ou outras pessoas, é preciso que os familiares ou amigos por ela responsáveis a adotem como parte de sua família, sem qualquer ressalva ou diferença em relação a forma como tratam seus próprios descendentes. Isso significa, na prática, que se deve tocar a vida em frente na eterna busca pela felicidade que todo e qualquer ser humano tanto persegue.

Não é fácil para ninguém, ainda mais para uma criança, não ter seus pais por perto, ainda que os novos responsáveis por ela sejam muito zelosos e amorosos. É preciso compreender a criança, entender quem ela é, qual é o seu mundo, quais são as suas possibilidades e perspectivas.

“Um laço de amor”, filme produzido em 2017, aborda esta questão e traz um poderoso adendo a trama, a órfã Mary (Mckenna Grace), é superdotada, tem QI elevado e potencial imenso na área de matemática.

Na prática isso significa pensar o futuro da menina não apenas quanto aos elementos básicos, do cotidiano, próprios de qualquer criança, pois há um fator adicional a tornar mais complexa a equação que temos pela frente. Estimular o desenvolvimento desta criança é uma necessidade e, ao mesmo tempo, há a preocupação em não extrapolar o presente nesta busca por estes dotes e, desta maneira, prejudicar a sua infância.

Como conciliar estes caminhos sem que isso dificulte um ou outro lado da existência de Mary?

E quantas não são as famílias que, como neste filme, independentemente da questão específica da orfandade e da disputa familiar pela tutela da menina, também não passam por esse mesmo dilema, ou seja, como preservar a infância e estimular o desenvolvimento de um talento especial de uma criança?

Nas escolas, normalmente, não há uma real preocupação em relação aos superdotados, ou seja, eles se destacam e percebem as limitações que lhes são impostas pelo ritmo proposto para cada ano letivo sem que os educadores tenham programas especiais a lhes proporcionar a possibilidade de desenvolvimento real de suas aptidões extraordinárias. Não há inclusão para casos desta natureza previstos no andamento regular das escolas.

É certo que algumas instituições se preocupam em oferecer programas especiais, nutrindo a curiosidade, estimulando de diferentes maneiras tal desenvolvimento e preparando o campo para que tais crianças e adolescentes brilhem intensamente no futuro em virtude de suas habilidades especiais percebidas. São, no entanto, a exceção e não a regra. A inclusão, nas escolas brasileiras tem como foco, muito mais as deficiências e dificuldades em seu amplo espectro, do que os superdotados e, ainda assim, engatinha de forma desajeitada mesmo nesta inclusão de alunos com déficit de atenção, dislexia, autismo, Síndrome de Down…

É preciso repensar e agir em parceria com as famílias, criando projetos de inclusão plenos, tanto para as crianças com alguma deficiência específica quanto para os superdotados, examinando ações bem-sucedidas já realizadas e em andamento, estudando com atenção os dados de novas pesquisas surgidas na área e, acima de tudo, oferecendo não apenas tudo aquilo que a ciência e a técnica oferecem para o apoio destas crianças e adolescentes, mas também todo o carinho e amor possíveis.

“Um laço de amor” é um filme especial e sensível que, de forma inteligente e envolvente, destaca a temática e que, com isso, pode fazer com que mais pais e educadores, busquem responder de forma efetiva a esta necessária ação de equilíbrio na vida dos superdotados para que seus talentos sejam valorizados e sua infância e adolescência sejam preservadas e felizes.

O Filme

“Um laço de amor”, filme protagonizado por Chris Evans (mais conhecido pelos filmes da Marvel, em que encarna o Capitão América), é uma daquelas delicadas e interessantes produções que não ganharam destaque nos cinemas pois não se encaixam no padrão dos Blockbusters, ou seja, não foram criados para amealhar grandes públicos e bilheteria.

Sensível e delicado, “Um laço de amor”, dirigido por Marc Webb, tem como centro da trama uma menina inteligentíssima, com QI elevado e grande talento para a matemática, chamada Mary (Mckenna Grace). Ela vive com o tio, Frank Adler (Chris Evans), numa casa simples, sem nenhum luxo, numa região litorânea dos Estados Unidos, onde ele conserta barcos para com isso bancar as despesas de ambos.

O talento para a matemática de Mary é o cerne da trama, pois a avó materna, mãe de seu tio Frank, considera um grande desperdício a opção de vida feita por Frank para criar a sobrinha e quer, a todo custo, tirar a guarda da menina dada a ele pela mãe, morta precocemente.

A opção de Frank, no entanto, é a de oferecer para sobrinha uma vida normal, em que ela possa crescer sem que seus dotes especiais sejam o guia que irá direcionar sua vida desde a infância. Sua mãe já havia vivido desta forma, igualmente genial em matemática, a perseguir fórmulas e cálculos para compor teorias que poderiam revolucionar a ciência e a existência humanas.

Quem tem razão? A avó, preocupada em estimular a capacidade única da neta e lhe proporcionar estudos em escolas avançadas em que certamente iria se desenvolver com maior rapidez e propriedade? O tio, a preservar sua infância e a oferecer a menina uma existência simples, sem luxo, em que pode ser apenas uma criança feliz?

O embate move a trama e mobiliza o espectador nesta queda de braço em família, num filme terno e envolvente, de belas locações e fotografia, com atuação convincente de Evans e elenco de apoio de qualidade que conta, inclusive, com Octavia Spencer, vencedora do Oscar por Histórias Cruzadas, em 2012.

O filme em sala de aula

O que é inclusão? Este tema tem sido amplamente discutido entre os educadores e há uma demanda social cada vez maior para que as escolas se preparem e atuem de forma efetiva quanto a inclusão. A formação dos educadores precisa e não pode prescindir de informações e orientações quanto a este tema, mas e nas salas de aula, juntamente aos alunos, o que tem sido feito para que um aluno especial seja integrado de forma consciente, com o necessário respeito, apoio e compreensão? Este é um trabalho que precisa ser planejado, pensado, discutido e trabalhado pelos educadores juntamente aos estudantes antes mesmo que, na prática, os casos existam. As escolas precisam envolver seus colaboradores com conhecimento sobre o assunto, adequar instalações e, também, preparar seus alunos para que a inclusão ocorra da melhor forma possível, tanto para quem tem alguma síndrome ou deficiência específica, quanto para os casos de alunos superdotados, com QI elevado, como apresentado no filme “Um laço de amor”.

Quando um aluno se destaca, demonstrando grande facilidade e rapidez de raciocínio nas aulas de matemática, capacidade de produção textual de alta qualidade ou dotes artísticos ou científicos que estão além daquilo que é regular entre todos os estudantes, há alguma estratégia ou ação prevista, plano ou projeto, módulo ou iniciativa de incentivo a esta capacidade/habilidade específica por parte da escola? Isso tanto no que tange ao cotidiano da sala de aula, com a inclusão de jogos ou desafios adicionais, ou num âmbito mais amplo, da própria proposta da escola, de desenvolver tais talentos. É preciso localizar estes alunos com talentos e habilidades especiais e criar estratégias e ações que os incentivem a irem além do que hoje as escolas regulares oferecem. Em sua escola há alguma iniciativa desta natureza?

Veja o trailer:

 

Ficha Técnica

  • Título: Um laço de amor
  • Título original: Gifted
  • País/Ano: EUA, 2017
  • Duração: 101 minutos
  • Gênero: Drama
  • Direção: Marc Webb
  • Roteiro: Allison Schroeder
  • Elenco: Chris Evans, Mckenna Grace, Octavia Spencer, Lindsay Duncan, Jenny Slate, John M. Jackson, Glenn Plummer, John Finn, Elizabeth Marvel.

 

Informações

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