“Errar é humano. Botar a culpa nos outros também.” (Millor)
“A maioria das pessoas não quer realmente a liberdade, pois liberdade envolve responsabilidade, e a maioria das pessoas tem medo de responsabilidade.” (Freud)
A culpa persegue e priva. A responsabilidade cobra e constrói. Pare e pense: Nossa base cultural cristã nos legou o pesado fardo do pecado. Ao fazê-lo atribuiu ao erro um enorme peso. Errar para as pessoas, em muitos casos, significa culpa. Não deveria ser assim..
Se mudamos o foco e pensamos que temos responsabilidades a história se modifica consideravelmente. A responsabilidade faz com que busquemos o acerto, o êxito e os melhores resultados. Ainda assim sabemos que o erro, o desacerto ou a falha podem acontecer. Tentamos nos precaver em relação a ele, mas não existe plano ou ação a prova de problemas ou dificuldades. O que fazer se algo não der certo? O controle total sobre as variáveis do universo é um sonho impossível. Temos que prever e antecipar ao máximo tudo o que pode acontecer, mas é preciso ter sempre em mente que algo pode fugir ao controle e ocasionar problemas e dificuldades.
As crônicas da vida trazidas pela história relatam que na Copa do Mundo de 1962, em que Pelé se contundiu e Garrincha passou a ser nossa maior esperança na luta pelo bicampeonato, o técnico Aymoré Moreira, nos vestiários, antes do jogo contra a União Soviética, combinou com todo o elenco o que deveria ser feito, desenhou a tática do Brasil para a partida e que, ao perguntar aos jogadores se tinham entendido, o “anjo das pernas tortas”, como era conhecido Garrincha perguntou a ele se havia combinado também com os adversários… É possível prever o que fará o adversário? Temos como controlar todas as adversidades e intempéries?
Se o sentimento com este resultado inesperado for a culpa, vem a necessidade de se encolher, se esconder ou ainda, como nos diz o sábio Millor Fernandes, atribuir a vergonha e a pecha da derrota, ainda que fugaz, a algum outro ser. Ninguém quer ou gosta de pagar a conta e se puder passar adiante, muitos o farão…
Quando olhamos a situação pelo prisma da responsabilidade, a compreensão muda pois passamos a estudar e buscar nos planos e ações os erros que cometemos ao longo do caminho. Queremos aprender, melhorar, precisamos rever os passos e, com isso, rever e reconstruir aquilo que fizemos. Freud afirma que muitas pessoas temem a responsabilidade, apesar de almejarem a liberdade que a ela conduz, ele tem razão.
O que é preciso aprender em relação a responsabilidade e culpa?
Que a culpa no leva as lágrimas, ao ressentimento, a dor e, muitas vezes a inoperância ou a paralisia sem que necessariamente com isso consigamos reverter a situação, aprender com ela, corrigir os rumos para levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima…
Que a responsabilidade nos permite assumir o comando das ações, sem legar a outros os ônus das falhas e erros (ou ainda os bônus dos acertos e realizações), nos permitindo aprender com as dificuldades e buscar novas respostas e rumos aos desafios da vida.
A responsabilidade, no entanto, demanda maturidade das pessoas e, também, das instituições, o que demanda tempo, para atingir este equilíbrio e capacidade de ponderação e chegar ao que, em poucas linhas, o escritor português José Saramago sacramentou sobre o assunto:
– Responsabilidade de quê?
– A responsabilidade de ter olhos quando os outros perderam.