Sob formatos diversos (presencial, remoto ou híbrido), o retorno exige rigorosa preparação, o que, do ponto de vista da Gestão Escolar, engloba aspectos diversos.
Pretendo neste artigo abordar alguns deles, o que obviamente não exclui nenhum outro que porventura não seja tratado.
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Gestão escolar além do normal
Todos que já foram ou estão em cargo de Gestão de uma Unidade Escolar sabem perfeitamente que o início do ano letivo demanda muito trabalho.
A preparação inclui – mas não se limita a – melhorias ou manutenção na estrutura física, reorganização do espaço físico, aquisição de equipamentos diversos, organização do material didático-pedagógico, preparação para recepção dos professores e alunos pós-férias, planejamento com estes professores para o início das aulas, e por aí vai.
Se isto já dá um trabalho enorme para a equipe gestora, imagine agora em um cenário que engloba ainda estarmos envolvidos em uma pandemia, utilizando protocolos sanitários de prevenção ao covid-19 e outros possíveis agentes de agravo à saúde, como a influenza.
Leve-se em conta também que várias estratégias pedagógicas serão necessárias, pois muito se perdeu em praticamente dois anos de aulas não-presenciais, sendo este quadro absolutamente pior nas redes públicas de ensino.
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Aspecto 1 – Como estão os alunos (e suas famílias)?
Se saber como os alunos estão, em termos de aprendizagem, já deveria ser algo que faz parte da rotina de início de ano de uma escola, agora então é um elemento crucial, tendo em vista que a maioria dos alunos passou muito tempo em ensino remoto e, por conta disso, possivelmente houve perdas na aprendizagem.
Fazer uma Avaliação Diagnóstica é, portanto, um dos primeiros passos para qualquer docente, e a escola deve se apropriar desta ferramenta para planejar seu ano letivo em bases confiáveis, de forma a estabelecer uma progressão pedagógica que inclua revisões de conteúdo aliadas aos conteúdos novos do ano letivo que o aluno estiver cursando.
As avaliações diagnósticas podem centrar-se em aspectos mais diretos do ensino, como a leitura e interpretação de texto, em especial na alfabetização, mas sem excluir o restante do ensino fundamental e mesmo o ensino médio, bem como os cálculos, envolvendo números ou lógica.
Mas há outros instrumentos avaliativos gerais que podem também serem usados, como os questionários, os seminários e as produções de texto, que podem ser específicos das disciplinas escolares.
Porém, acredito que tal avaliação diagnóstica poderia ir além para além do conteúdo, ou seja, abordar aspectos qualitativos importantes, sobre, por exemplo, como o aluno está se sentindo (incluindo sua família) em relação ao retorno presencial, quais são os medos e as expectativas e como é sua perspectiva de estar com colegas em ambiente de distanciamento social e uso de máscaras.
Tal avaliação poderia proporcionar uma melhor preparação em termos das competências socioemocionais dos alunos, a fim de que estejam mais seguros para a retomada das aulas.
Mesmo que a escola tenha optado por ainda continuar em ensino remoto, esta avaliação poderia ser extremamente valiosa para determinar quais questões relativas ao estado emocional poderiam ser trabalhadas junto aos alunos.
Neste sentido, torna-se importante trabalhar determinadas competências socioemocionais, como a resiliência emocional (que aborda tolerância ao estresse e às frustrações), a autogestão (que aborda, entre outros, a responsabilidade e a determinação), a amabilidade (que aborda o respeito e a confiança) e o engajamento com os outros (iniciativa social e assertividade).
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Aspecto 2 – Como estão os professores e funcionários?
O acolhimento necessário aos alunos deve se estender também aos professores e funcionários, que partilham as mesmas questões de cunho socioemocional referentes a trabalhar presencialmente em um ambiente de pandemia.
Cumpre notar que as mesmas preocupações que podem ter os alunos e familiares também são partilhados pelos professores e funcionários, e a escuta atenta e empática do gestor, além de resoluções conjuntas com seus funcionários serão fundamentais para um início letivo mais tranquilo para todos.
Em relação aos professores, que necessitam de um período de planejamento pré-início das aulas, cumpre estabelecer protocolos de segurança destes no manejo das turmas, sem esquecer, claro, do cuidado extra com alunos especiais, mormente aqueles que necessitam de acompanhamento especializado (agente de Educação Especial, tutor ou monitor).
Além deste cuidado de saúde, verificar os cuidados necessários do ponto de vista da aprendizagem e do trato social, pois podemos inferir, sem medo de errar, que estes foram os mais prejudicados pela pandemia.
Do ponto de vista dos funcionários da escola, cumpre sempre garantir que tenham os cuidados básicos necessários para o cumprimento dos protocolos sanitários, para sua própria segurança e para a segurança dos alunos, nos manejos dentro do espaço escolar, como trânsito para o recreio, entrada e saída dos alunos, ida ao refeitório para alimentação (se houver), entre outros.
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Aspecto 3 – Como estarão os alunos com a aula presencial?
Este aspecto diz respeito ao retorno ao ensino presencial após longo tempo de ensino remoto. Não é algo automático, em especial àqueles que experienciaram diferentes formas de ensino aprendizagem baseadas em tecnologias educacionais, uso de metodologias ativas de aprendizagem e, especialmente, avaliação remota.
Se, ao retornar as aulas presenciais, o professor pretender retomar o mesmo estilo de aula tradicional, palestrada e com o aluno como elemento passivo em sala de aula, pode se deparar com uma enorme resistência, desmotivação e a consequente evasão de alunos.
Da mesma forma que as aulas remotas ofereceram a oportunidade para o professor reinventar seus métodos de ensino e sua forma de lidar com o aluno em sala de aula, o retorno presencial oferecerá o desafio do não-retorno às aulas tradicionais.
A ressalva que sempre faço quando abordo este aspecto é a de não ser contra aulas tradicionais em aspectos variados, mas sim de ser contra esta forma de ensinar ser a única utilizada por muitos, sem variações metodológicas e sem proporcionar ao aluno ser o co-condutor de seu processo de aprendizagem.
Cabe à Coordenação Pedagógica da escola determinar as diretrizes metodológicas a serem seguidas, em consonância com os desejos e possibilidades de seus professores.
Neste sentido, a utilização de estratégias de engajamento do aluno como corresponsável por sua aprendizagem poderá manter este aluno motivado e focado no ensino, ao invés de esmorecer por não ter uma sala de aula instigante e motivadora.
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Aspecto 4 – Como estará a aprendizagem?
É fato notório em praticamente todo sistema de ensino que houve alunos que simplesmente evadiram durante a pandemia e que mesmo estratégias elaboradas de busca ativa não foram capazes de fazê-los voltar aos estudos, em especial nas classes socioeconômicas menos abastadas.
Para estes casos, bem como para aqueles que apresentarem, na avaliação diagnóstica, uma grande defasagem de aprendizagem, que a escola se instrumentalize para oportunizar aulas de reforço escolar nas disciplinas ou conteúdos que os alunos apresentarem maior grau de desconhecimento ou dificuldade.
Tal estratégia poderá ser oportunizada no contraturno de aulas do aluno, bem como aos sábados, para que ele possa recuperar o tempo e o conhecimento perdidos, se aproximando daqueles que não tiveram tal perda ou não o tiveram no mesmo grau.
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Integrando os aspectos na gestão escolar
Como dito no início, os aspectos aqui abordados são apenas aqueles que julgamos mais oportunos em termos dos objetivos deste artigo, podendo outros serem pensados e organizados.
Cada Gestor escolar deve fazer uma análise profunda de suas necessidades imediatas e mediatas, pensando em estratégias para atingir seus objetivos nos diversos âmbitos da escola (pedagógico, econômico, estrutural, humano etc.).
No entanto, ao pensarmos nestes aspectos aqui abordados, em uma perspectiva humanizadora, podemos ter uma perspectiva diferenciada.
O que está em jogo neste retorno às aulas, particularmente as aulas presenciais, é toda uma gama de dramas pessoais que envolveu as vidas de todos da comunidade escolar, o que engloba crianças que ficaram sem aulas presenciais ou simplesmente sem aula alguma, responsáveis que tiveram que gerenciar seus filhos por longo período em casa, e muitos que perderam seus empregos, com significativa perda de renda familiar.
Funcionários e professores que tiveram sua carga horária reduzida ou perderam seus empregos, escolas que ficaram sem funcionar presencialmente por longo período, com perda financeira significativa por evasão de alunos e, principalmente, todos, em maior ou menor grau, que perderam parentes, amigos ou conhecidos durante todo este período. Não há quem não tenha sido, em maior ou menor grau, afetado por esta pandemia.
Um período de perdas e reinvenções, de ganhos e lamentações não passa assim simplesmente sem deixar marcas profundas.
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Estas marcas, que se revelam na aprendizagem perdida ou adiada, no medo ou ansiedade pelo retorno presencial, no não saber como será a vida daqui em diante, terá que ser encarada de frente pelo gestor, com determinação e positividade, para que se possa tentar, gradativamente, recuperar o tempo, a aprendizagem e a confiança que foram profundamente abalados na pandemia.
E que a incerteza possa ser substituída, ao final deste ano letivo, por uma grande dose de satisfação e da certeza de dias melhores.
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