Entenda como o desenho infantil revela emoções, pensamentos e aprendizados que pais e educadores devem ficar atentos.

A primeira atividade que os pais e a escola apresentam ao universo infantil é baseado nos desenhos. Sejam eles por meios midiáticos ou até mesmo pelo rabisco em papel.

A questão que surge em nossas mentes é: qual é a razão pela qual pais e educadores veem os desenhos como uma prática fundamental e/ou essencial para as crianças? Espero que a explicação para essa dúvida vá além de simplesmente proporcionar uma distração para que os pequenos se mantenham ocupados e não atrapalhem os adultos em suas ocupações.

Esses pais e educadores seriam capazes de pensar que, ao permitir que as crianças desenhem, elas estão expressando seus pensamentos, emoções e comportamentos que gostariam de comunicar de forma verbal, mas, na verdade, enfrentam limitações neurais que as impedem de fazê-lo?

Desde a infância até a vida adulta, as crianças são frequentemente incentivadas a desenvolver o gosto pela leitura e pelo desenho, o que pode acabar adiando o aprimoramento de suas habilidades, reflexos, talentos e entendimentos. Em qualquer espaço em branco de papel ou em qualquer superfície que permita ser marcada, os sentimentos mais profundos de um indivíduo, seja ele muito jovem ou já mais maduro, ganham forma.

Explorar de maneira detalhada os aspectos relacionados à avaliação e à interpretação do desenho pelos profissionais que atuam tanto em contextos educacionais quanto em consultórios, além de analisar de que forma essa interpretação e avaliação contribuem para o progresso cognitivo, emocional e psicomotor do aluno ou paciente.

A Importância do Desenho no Desenvolvimento Infantil

A arte de desenhar para a criança representa uma maneira muito especial e divertida de se expressar e de criar imagens, oscilando entre o que é real e o que é imaginário. Desde os primórdios da civilização, desenhar e rabiscar têm sido formas de comunicação e expressão; no entanto, para os pequenos, muitas vezes, não é essencial dar significado aos seus desenhos. Ao manusear giz, lápis ou tinta, eles exploram e desfrutam das novas experiências. Ao rabiscar, a criança está estimulando sua criatividade e aumentando sua habilidade de se comunicar.

Com o tempo, esses traços e imagens começam a ser criados de forma deliberada, e a criança utiliza o desenho como uma maneira de expressar seus pensamentos, anseios, emoções, partilhar seus sentimentos e interagir com a realidade. Os desenhos adquirem significados e simbolismos, ampliando a habilidade criativa da criança. O primeiro desenho que apresenta simbolismo geralmente é o da figura humana. Assim, surgiram as etapas do desenho, que incluem: Garatuja desordenada; Garatuja ordenada (longitudinal); Garatuja ordenada (circular); Garatuja nominada (misturada); Pré esquema (1ª fase); Pré esquema (2ª fase); Pré esquema (3ª fase); Esquema; Início do Realismo.

O Papel do Desenho na Educação e Avaliação Infantil

Discutir sobre o desenho na infância envolve tratar do crescimento, aprendizado, formação de noções, estruturação de pensamentos, elaboração de juízos, habilidades cognitivas e de comunicação. A diversidade do grafismo infantil oferece à criança não apenas a alegria de criar, mas também engloba todos esses elementos da educação na primeira infância. A despeito disso, Pillar (1996) nos diz:

Ao desenhar ela constrói um espaço ao seu redor. Observá-la é fundamental para que possamos entendê-la, pois para este pequeno ser, o desenho é a sua linguagem e sua primeira escrita. Nele são mostrados seus medos, inseguranças, ansiedades, alegrias e descobertas. A criança não nasce sabendo desenhar, que este conhecimento é construído a partir da sua relação direta com o objeto, assim são suas estruturas mentais é que definem as suas possibilidades quanto à representação e interpretação do objeto. Assim a criança é o sujeito de seu processo, ela aprende a desenhar a partir de sua interação com o meio. (PILLAR, 1996, p. 21)

A arte infantil serve como um elemento fundamental na avaliação significativa do crescimento da criança, pois seu desenvolvimento apoia a expressão simbólica, o aprimoramento das habilidades motoras e emocionais, além de favorecer a aprendizagem de maneira geral.

A Psicanálise, a Psicologia e a Psicopedagogia buscam elucidar ou entender aquilo que não é verbalizado, as mensagens subjacentes e os aspectos inconscientes que a criança vive. Considerando que o processo de cognição infantil ainda está em formação, há muito o que se explorar e descobrir. De qualquer maneira, esses desenhos servem como valiosos registros.

Referências:

DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil. São Paulo: Scipione, 1989.

LUQUET, Georges Henry. O desenho infantil. Porto: Editora do Minho, 1969.

MEREDIEU, Florence de; O Desenho Infantil. Rio de Janeiro: Editora Cultrix, 2012.

PILLAR, Analice Dutra. Desenho & escrita como sistema de representação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

Dr. Richard Munhoz é psicanalista Clínico e Infantil, especialista em Análise e Interpretação do Desenho, psicopedagogo, neuropsicopedagogo, mestre e doutor em Ciências Médicas.  Autor do livro “Análise e Interpretação dos Desenhos – Utilização dos testes projetivos nas clínicas psicanalítica e psicopedagógica” (Wak Editora).

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