Na atualidade, muito se fala sobre diversidade humana. Com isso, as pessoas com deficiências entram em cena como se fossem “especiais”.

Aliás, a palavra especial costuma ser usada para qualificar estudantes surdos, cegos, cadeirantes, com Síndrome de Down, hidrocefalia, entre outros. Soa como uma delicadeza, algo positivo. Mas será que é mesmo?

A visão clínica da deficiência

Precisamos problematizar essas formas de ver a deficiência. O uso clínico do termo serve como identificação de organismos que “não funcionam direito”: déficits cognitivos, deformidades anatômicas, desregulações fisiológicas.

A visão clínica nasce com a intenção de catalogar pessoas e normalizar o que foge do comum. Assim, a palavra deficiência acaba alimentando construções culturais que indicam falta, sofrimento ou a necessidade de se encaixar em padrões.

Nesse cenário, os laudos passam a determinar não apenas o direito, mas onde as pessoas podem e devem estar.

E a escola, como fica?

Professores precisam de conhecimento pedagógico. Por isso, algumas concepções precisam ser transformadas:

  1. Todas as pessoas são singulares – ninguém é igual a ninguém. Essa lógica vale para anatomia, fisiologia e estética.
  2. Não existem necessidades especiais, mas necessidades humanas.
    • Um bebedouro rebaixado não atende a uma necessidade especial de pessoas cadeirantes — atende ao direito humano à hidratação.
    • O piso tátil não é um favor para cegos, mas sim uma garantia de mobilidade autônoma.
    • A Libras não é uma “ferramenta especial”, mas uma ponte para a comunicação e a cultura.

A palavra “especial” e sua origem

A ideia de “especial” tem raízes problemáticas. Essa nomenclatura surgiu com a Revolução Industrial, com o objetivo de separar e excluir.

Segundo Foucault, em O nascimento da clínica, a medicina passou a classificar os corpos como normais/anormais, sadios/doentes, produtivos/inválidos — um olhar especista e excludente.

Exemplo claro disso: a inclusão das pessoas surdas como deficientes auditivos. Durante o processo industrial, permitir o uso da Língua de Sinais nos ambientes fabris era inviável: as mãos precisavam estar ocupadas com o trabalho. Assim, proibiu-se o uso da Libras (como no Congresso de Milão, 1880) e definiu-se a surdez como invalidez.

A surdez deixou de ser uma característica sensorial e passou a ser uma marca moral, uma justificativa para excluir essas pessoas da vida em sociedade.

Uma escola para todas as singularidades

Precisamos repensar o que de fato é valioso para uma prática pedagógica inclusiva.

Educação inclusiva não é apenas colocar pessoas na escola.
É incluir a escolarização na vida das pessoas, com respeito à diversidade e à singularidade de cada uma.

Eduardo de Campos Garcia é Doutor e Mestre em Educação, Arte e História da Cultura; Pos-doc em Educação e Saúde na Infância e Adolescência; PhD em Psicanálise Clínica; Especialista em LIBRAS; Pedagogo. Entre os livros lançados estão “O que todo pedagogo precisa saber sobre Comunicação Inclusiva e “O que todo pedagogo precisa saber sobre Libras”. Ambos pela Wak Editora.

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