Aquele breve intervalo a que todos têm direito quando numa jornada de trabalho com muitas horas num escritório, escola, hospital, comércio ou fábrica.
Era isso o que pensava o Juvenal. Consultor da área de tecnologia na empresa em que trabalhava, na hora em que se reunia para o café tinha chance de encontrar o Juca, a Antônia e o Marcelo, que eram de outros departamentos da empresa.
Colocavam o papo em dia, trocavam figurinhas de seus departamentos, por vezes falavam sobre filmes e livros, curtição de todos no grupo, outras tantas comentavam sobre as notícias, o tempo ou mesmo os bastidores da empresa.
Mas o melhor mesmo era a troca de ideias. Isso os colocava sempre em destaque em seus setores de trabalho. Marcelo, por exemplo, trabalhava com vendas, Antônia era do marketing e Juca atuava em finanças.
Sempre que surgia algum novo serviço ou aplicativo o Juvenal compartilhava com os colegas e eles logo passavam a usuários, por vezes mesmo sendo o que ele chamava de “early users” daquelas ferramentas.
Sugestões do Marcelo, provenientes do contato que tinha com os clientes ajudavam a Antônia nas novas campanhas de divulgação da empresa ou adiantavam estudos financeiros da equipe do Juca.
Até o dia em que a Bárbara assumiu a direção da empresa…
Depois de um bom começo, quando pareceu ganhar a confiança de todos, sua mania de perseguição fez com que começasse a, literalmente, “meter os pés pelas mãos”.
Cometeu alguns erros básicos na gestão, como por exemplo, falar publicamente e de forma irônica sobre alguns de seus colaboradores. Dançava conforme a música, ou seja, tinha duas caras e, por isso, tratava as pessoas bens em alguns momentos e em outros, pelas costas, as apunhalava. Foi ganhando desafetos na empresa, mas prosseguia por ali, o que preocupava muito aos funcionários da empresa, que não gostavam de ficar expostos as suas nuances de comportamento e temperamento difícil.
Aí veio o erro fatal. Bárbara resolveu implicar com a hora do café…
Quando viu que Juvenal, Marcelo, Antônia e Juca trocavam ideias naquele momento do dia, julgou que estariam falando dela, o que por vezes até acontecia, tendo em vista seus desmandos e erros na gestão, mas que não constituía a tônica do grupo.
Definiu então que seus colaboradores até podiam tomar o seu café, mas que deviam evitar conversas neste momento.
Não entendera que havia uma questão social, de entrosamento, de troca de ideias, de crescimento profissional e mesmo de relaxamento diante da correria e das naturais tensões do trabalho.
Desencadeou tamanha onda de protestos que não restou alternativa ao presidente da empresa, o Anderson, senão demitir a funcionária. Até greve foi realizada no escritório durante o período em que os funcionários estiveram proibidos de conversar na hora do cafezinho.
Houve queda de produtividade e as novas ideias minguaram pois, o canal de trocas que rolava no cafezinho, fora suprimido.
Dona Alaíde, que era responsável pelo cafezinho, virou símbolo da campanha pela hora sagrada que era tão valiosa ao Juvenal e a todos os seus colegas.
Depois daquela, Bárbara não apenas saiu da empresa, como demorou a conseguir nova colocação, pois como não gostava de papo de cafezinho, apesar do bom currículo e formação, não tinha uma rede de relações que desse a ela conexões e a ajudassem a conquistar novo emprego.
Quando conseguiu recolocação, tratou de aderir a hora do cafezinho e rever seus métodos, processos e, principalmente a forma como se relacionava com seus colegas de trabalho…