Outro dia assisti a um vídeo do filósofo Clóvis Filho, cujo tema era felicidade. Ele narrava, da forma interessante e divertida que lhe é peculiar, sobre a primeira vez que “professou”, quando ministrou uma palestra, com 13 anos. Foi a primeira vez que foi verdadeiramente feliz. O que é então felicidade? Para ele, felicidade é “um instante de vida que você gostaria que durasse um pouco mais, um instante de vida que você gostaria que não acabasse logo, um instante de vida que você gostaria de repetir”.
A atividade de lecionar deveria ser assim, e para muitos talvez seja. Mas, para muitos outros, infelizmente, quando a aula começa, já desejam que ela acabe. Todo mundo que foi professor já teve aquela turma do balacobaco. Aquela que testa o mais obscuro meandro de seu ser, que transforma sua sala de aula no labirinto do Minotauro, fazendo com que você tenha que descobrir o Teseu dentro de si para não ser devorado.
As dificuldades do ensino remoto
A tarefa docente já não é fácil por si. Mas, para dar conta das exigências do ensino, o professor subitamente teve que se tornar um catedrático-mestre-doutor honoris causa em ensino remoto. E se nós, professores, achávamos que trabalhávamos muito, agora a docência virou um filme de ação capaz de deixar os Vingadores da Marvel batendo palmas na plateia. Mas, qual é a grande diferença? O que exatamente deixa a aula remota tão exaustiva para o professor? Bem, fora a parte do planejamento, da execução e da avaliação, normais no ensino presencial, agora o professor tem que se tornar autodidata em plataformas de ensino digital, pesquisar vídeos, blogs, sites, participar de reuniões virtuais com a coordenação pedagógica/direção, responder e-mails dos alunos e responsáveis, tirar dúvidas dos alunos nas mídias digitais e toda uma série de procedimentos que – numa perspectiva otimista – minimamente quintuplicaram o trabalho docente.
Por outro lado, ser aluno na realidade do ensino remoto também não é fácil. Se, no ensino presencial, as aulas eram desinteressantes, muito distantes da realidade dos alunos, e em grande parte desconectadas do dopaminérgico mundo digital – algo tão distante de tornar a sala de aula um espaço desejado e feliz quanto de um dia sairmos do Sistema Solar rumo a outros mundos – agora o aluno tem que lidar com cansativas aulas virtuais, problemas de conexão à internet (quando esta existe) e a falta do contato presencial com os professores e colegas de turma.
Qual é a melhor forma de lidar com o Ensino Híbrido?
A grosso modo, Ensino Híbrido é aquele que combina metodologias distintas para ensinar, unindo o ensino on-line (da internet, mídias sociais ou qualquer forma virtual) com o off-line (o ensino presencial).
Para isso, existem diferentes metodologias (por exemplo: aula invertida, aprendizagem por pares, por times ou por grupos, aprendizagem por projetos) em que as atividades on-line, inerentes a essas técnicas, podem ser mescladas com a atividade presencial do professor.
Por outro lado, longe de ser uma atividade isolada do professor, o ensino híbrido deve estar integrado ao Projeto Político Pedagógico da Escola, como parte de um esforço para que haja um efetivo engajamento de todos os envolvidos no processo, desde os alunos até os professores e responsáveis.
Isto se deve à necessidade da implementação de uma mudança da cultura educacional por todos os envolvidos. Sair do paradigma do ensino tradicional não é algo automático ou gratuito. Exige a implementação de uma rotina gradativa de mudanças de perspectiva que envolve a formação dos professores e o entendimento e adesão da proposta por responsáveis e alunos.
O que parece claro é que a implementação do ensino híbrido está associada a uma ideia defendida pela neurociência: a implementação do ensino personalizado e a transformação do aluno em um autêntico construtor do próprio conhecimento.
Ao oportunizar a vivência do ensino on-line, em que o aluno é participante ativo do processo, juntamente com metodologias presenciais que enfatizam a solução de problemas e que têm o professor como organizador e orientador, tal ideia fica mais próxima, embora o processo ensino-aprendizagem seja ainda coletivo.
O modelo de rotação no Ensino Híbrido
O modelo de rotação é tido como um dos que apresentam melhores resultados no sentido da personalização, em que alunos podem realizar atividades diferenciadas em estações em sala de aula, alternar entre o uso de laboratórios e a sala tradicional, alternar atividades em sua própria rotina de estudos, em que escolhe propostas relativas às tarefas que deve cumprir, além da rotatividade de espaços de sala de aula que podem ser utilizados conforme o planejamento do professor – incluindo o uso de espaços em que o aluno tenha contato direto com a natureza.
Esta conjunção entre os modelos de ensino presencial da escola tradicional e de ensino on-line secundado pelas novas tecnologias digitais parece ser o pano de fundo para desenvolver maior autonomia e criatividade por parte dos alunos, ao mesmo tempo ampliando o conhecimento e as possibilidades dos professores rumo a um ensino mais atraente e, ao mesmo tempo, a uma aprendizagem mais eficiente e produtiva. Mas, principalmente, que torne o ambiente de sala de aula mais feliz, em que alunos e professores queiram que dure um pouco mais, que não acabe logo, que queiram sempre repetir.