O mundo a partir do cérebro de uma menina de 11 anos
O cérebro humano tem sido objeto de pesquisas científicas desde o início dos tempos. Do Antigo Egito até hoje se pretende entender como funciona a mente de homens e mulheres, de que forma evolui a partir do nascimento, o que promove seu melhor funcionamento, quais são os problemas ou doenças relacionadas a esta parte fundamental do corpo humano, que partes especificamente compõem o cérebro, que funções competem a cada campo mapeado, o que são as sinapses…
Há estudos sendo realizados em laboratórios, com alta tecnologia a literalmente “auscultar” os movimentos cerebrais e, com isso, tendo todo o mapeamento sendo realizado, entender não apenas o seu funcionamento mas, evidentemente, também os caminhos percorridos pela humanidade e por cada ser humano em particular.
Química, biologia, antropologia, psicologia, sociologia e tantos ramos de pesquisa científica tem real interesse em saber mais sobre o cérebro humano. Já se pensou, por exemplo, que o cérebro de grandes pensadores, artistas e cientistas pudesse ser maior ou possuir algum detalhe específico que os fizesse mais capazes ao empreender em suas mentes as ações geniais que levaram a tratados, invenções, realizações artísticas…
Também já se especulou que entre os homens pudesse existir alguma etnia ou raça mais evoluída e inteligente o que, com certeza, teria raízes ou repercussões no cérebro. Felizmente estas teorias não se comprovaram, ou seja, a humanidade, a despeito de qualquer diferença marcante (raça, etnia, gênero, idade, origem social…), apresenta iguais condições de desenvolvimento e aprendizagem a partir de seu principal elemento de detecção, compreensão, análise, crítica, leitura e contato com o mundo, o cérebro.
Do mesmo modo que a ciência se debruça sobre este importante elemento da anatomia e configuração humana, também o cinema aprecia o tema e, a todo momento traz produções nas quais o cérebro aparece como protagonista ou coadjuvante.
A Disney/Pixar, por exemplo, lançou em 2015 uma animação que encantou o público de diferentes faixas etárias, das crianças aos adultos, sendo que entre os mais velhos teve grande repercussão justamente por abordar a evolução da mente dos pequenos de um jeito lúdico. “Divertida Mente” (Inside Out), do diretor Peter Docter conquistou, sem trocadilhos, corações e mentes pelo mundo afora ao contar a história de uma menina de 11 anos de idade que muda de cidade e enfrenta os dilemas relacionados a esta grande alteração nos rumos de sua vida. A inovação é que, tudo o que ela vive é visto pelo público a partir do cérebro da personagem principal, que tem como companheiros constantes de sua jornada os sentimentos que a movem, no caso, Alegria, Nojinho, Medo, Raiva e Tristeza.
Ao modificar o ponto de vista da trama e colocar quem assiste na cabeça da menina Riley, o filme nos faz pensar sobre como funciona o cérebro e, desta forma, ativa também os sentimentos que movem cada um dos espectadores, num efeito cascata que pode ser delicioso para alguns e assustador para outros… Imperdível animação que entra para o rol das melhores, mais interessantes e criativas já produzidas!
O Filme
Riley, de 11 anos, é uma menina esperta e muito alegre que vive no interior dos Estados Unidos com o pai e a mãe, numa típica cidadezinha daquele país. Joga Hóquei, tem bons amigos, adora as brincadeiras do pai, curte muito a amorosidade da mãe e, de quebra, se diverte muito com seu cachorro de estimação.
Nada demais até aí, não é mesmo? O problema é que conhecemos Riley e entramos na cabeça dela, onde atuam outros personagens, seus sentimentos: Alegria, Raiva, Nojinho, Medo e Tristeza. Eles acionam o cérebro, gravam as memórias, orientam as ações, colocam no limbo o que lhes parece secundário para a vida de Riley…
Há uma mesa de controle e sobre ela reina a mais bem-intencionada de todos os sentimentos de Riley, Alegria. Com uma disposição inigualável, os dias de Riley são, quase sempre, direcionados por Alegria. Por vezes, no entanto, prevalecem os outros sentimentos, como o Medo ou a Tristeza, por exemplo.
Alegria luta contra a prevalência destes outros sentimentos mas sabe, que em alguns momentos, eles irão prevalecer, ainda que seus esforços sejam grandiosos para que isso nunca aconteça. O cérebro de Riley, no entanto, sobre alterações a partir do momento em que a família deixa a tranquilidade do interior dos Estados Unidos e parte para uma nova vida em São Francisco, na Califórnia.
A mudança de ares gera conflitos no cérebro dela e as estruturas bem definidas e aparentemente a prova de abalos começam a ruir. Família, amigos, esporte e outros pilares são colocados a prova já que a Alegria perde espaço e a Tristeza toma conta nesta transição familiar.
O que pode acontecer, a propósito, quando grandes mudanças ocorrem na vida das pessoas e, particularmente das crianças? Como elas reagem em seus cérebros? Partindo desta premissa surge uma animação vigorosa, divertida e emocionante que agradou o público e a crítica, sendo aclamado, inclusive, no prestigioso Festival de Cinema de Cannes em sua edição 2015.
Para Refletir
1- Como funciona o cérebro humano? O que já é possível afirmar a partir das últimas pesquisas científicas? Esta é certamente a primeira grande reflexão e pesquisa a ser proposta juntamente aos alunos após assistir ao filme “Divertida Mente”. Na busca de dados o trabalho a ser proposto deve ter em mente que o tema é multidisciplinar e que as respostas devem, igualmente, ser multifacetadas ou multimeios. O que quero dizer com isso? Que a proposta de ação deve prever entrevistas ao vivo ou por meio de tecnologias, apresentações com uso de diferentes mídias e, se possível, que os alunos apresentem para outras turmas ou até mesmo para a comunidade.
2- A inteligência, que durante muitos anos foi associada a testes de QI, e que tem o cérebro com sua base nos seres humanos, tem sido objeto de estudos de diversos pesquisadores e atualmente é percebida como não sendo mais apenas atrelada ao pensamento lógico, a racionalidade. Há também a inteligência emocional e o que os estudiosos chamam de inteligências múltiplas. Seus alunos sabem o que é isso? Que tal trazer à tona este importante tema? Pesquisar autores e buscar a evolução deste tema a partir dos jornais nas últimas 2 ou 3 décadas para construir uma linha do tempo é uma atividade bem interessante e muito enriquecedora!
3- Filmes como “O Planeta dos Macacos”, em suas diferentes versões, abordam a questão do cérebro animal como passível de processar e ativar ações e pensamentos lógicos como o que ocorre entre os seres humanos. Entender as diferenças entre os cérebros humano e animal, abordada de forma cômica nos créditos finais da animação “Divertida Mente” pode ser mais um foco de estudos e pesquisas, com entrevistas e busca de informações juntamente a veterinários, pesquisadores, centros de pesquisa com animais… Organize mostra de filmes em que animais tem seus cérebros ativados a agem como seres humanos, além do clássico já mencionado, outra boa sugestão é a versão filmada do livro de George Orwell, “A Revolução dos Bichos”.
Veja o trailer:
Ficha Técnica
- Título: Divertida Mente (Inside Out)
- Origem: EUA, 2015
- Indicação etária: Livre
- Gênero: Animação, Família, Comédia
- Duração: 95 minutos
- Dirigido por: Peter Docter
- Elenco (vozes): Amy Poehler, Bill Hader, Mindy Kailing, Lewis Black, Phyllis Smith, Diane Lane, Kyle MacLachlan, Richard Kind.