Celebrado no dia 21 de março (21/03), o Dia Internacional da Síndrome de Down faz referência aos três cromossomos no par 21, que caracteriza a condição genética.
A escolha da data foi proposta pelo Brasil, e aprovada por consenso pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2011. Boa ocasião para falarmos sobre o assunto.
A escola hoje enfrenta inúmeros desafios, um deles é a resolução imediata dos problemas organizacionais, curriculares que entravam o avanço e os progressos dos alunos, sobretudo dos alunos com deficiência.
No caso em particular trataremos das pessoas com Síndrome de Down. Propiciar aos alunos o desenvolvimento de todas as suas potencialidades através do uso otimizado dos recursos didáticos e técnicas diferenciadas de ensino, oportunizando a todos a realização de aprendizagens, é o mínimo que a sociedade espera da escola.
Longe da ideia de que deve apenas repassar conhecimentos, essa escola deve revestir-se de novos parâmetros que valorizam as descobertas, recomendam a presença das famílias na escola, convivem com a comunidade incentivando a interação, a troca.
O Estatuto da Pessoa com Deficiência prega em seu artigo 40, do Direito a Educação alguns itens que trazemos aqui com reflexão ao direito promulgado
Art. 40. É direito fundamental da pessoa com deficiência à educação, a fim de garantir que ela atinja e mantenha o nível adequado de aprendizagem, de acordo com suas características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem.
Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar a educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda a forma de negligência, discriminação, violência, crueldade e opressão escolar.
Art. 41. Incumbe ao Poder Público, em todos os níveis e modalidades de ensino, assegurar, criar, desenvolver, implementar e incentivar:
I – A convivência escolar num sistema educacional inclusivo;
II – A preparação da escola e o aprimoramento dos sistemas educacionais a fim de incluir todos os alunos com deficiência, inclusive através da disponibilização de tecnologias assistivas e cuidadores;
No inciso
IV – A adaptação dos currículos, métodos, técnicas pedagógicas e de avaliação a fim de que se garanta a aprendizagem com qualidade;
V – A adoção de medidas individualizadas que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social, bem como a permanência na escola;
VI – A produção e divulgação de conhecimento, bem como o desenvolvimento de novos métodos e técnicas pedagógicas;
E finalmente
XII – A disponibilização de educação técnica e profissionalizante, voltada à qualificação da pessoa com deficiência para sua inserção no mundo do trabalho; e XIII – a inclusão de conteúdos curriculares, nos cursos de nível superior, educação profissional e tecnológica, de questões relacionadas às pessoas com deficiência em seus respectivos campos de conhecimento.
Como pudemos perceber, nos parece que as leis precisam sair do papel e serem efetivadas.
Então pensamos: Qual o papel das tecnologias na vida pessoal e escolar das pessoas com Síndrome de Down? Aprender a visitar os sites, tornando-os fonte de pesquisa, não só para ampliar os conteúdos, mas e sobretudo como espaço efetivo de comunicação e condições de interação
As tecnologias tem uma função social e socializadora da educação, não só de acesso aos saberes e formas culturais, ou novas ferramentas pedagógicas (quando existe simultaneamente a intervenção), objetiva acolher e envolver aquele aluno com uma nova ecologia cognitiva implica na atualização e uso dos desafios da Informática, também como novas dinâmicas na construção do conhecimento, através das informações e uso eficiente de softwares pedagógicos.
Da satisfação de uso adequado dos computadores vistos como recurso auxiliar para o aluno, a partir das consultas as enciclopédias eletrônicas/ intercâmbios
Concepções de conhecimento: práticas pedagógicas e a utilização dos computadores no processo de ensino aprendizagem das pessoas com Síndrome de Down.
Toda prática pedagógica e de pesquisa refletem uma concepção do que é ensinar e aprender, quais concepções pedagógicas e metodológicas permeiam os programas educativos nas proposições do uso das tecnologias para essa parcela da população? Lembramos de ter autores que fundamentam essas discussões:
Trazemos algumas ideias de Vygotsky para nossa reflexão. Para ele, o desenvolvimento é um processo histórico no sentido dialético. Daí a importância da compreensão do ser humano, como um ser social, histórico e cultural.
Por outro lado, a fala, reorganiza o comportamento possibilitando ao sujeito, orientar-se e controlar suas ações sobre o meio. Sem a língua não há como pensar a realidade. Em sua obra educacional e escolar, Vygotsky destaca que as funções da interação social, envolvem funções psicológicas -pensamento, linguagem, percepção, memória- constituem uma complexa rede de posições sociais e expectativas a elas associadas, implicam no desenvolvimento cultural.
Entende-se como desenvolvimento cultural – o desenvolvimento em si, para os outros e para si mesmo. Nos inspira a pensar que o desenvolvimento humano e a educação são dois aspectos de uma mesma coisa: A educação se dá através da mediação social, o sujeito internaliza a cultura e se constitui um ser humano.
Ainda para Vygotsky, o saber é descobrir a significação que as coisas têm para os homens, é uma produção social, que implica na circulação das ideias entre as pessoas, as significações das coisas e as ideias que temos sobre elas.
Então pensamos como fazer uma educação inclusiva se esquecemos que as pessoas com Síndrome de Down vivem num mundo tecnológico e informatizado?
Para nos ajudar nessa reflexão em relação aos afetos inclusivos e compartilhado alguns pensamentos de Wallon esclarecem esse ponto: A educação é consciente, intencional, ordenada e sistematizada, é uma relação evolutiva. Continua ele, separar o homem da sociedade, opor, como é frequente, o sujeito à sociedade, é descorticalizar o cérebro.
A sociedade é para o homem, uma necessidade, uma realidade orgânica. Não que ela já esteja organizada no seu organismo, a ação se faz no sentido inverso. É da sociedade que o sujeito recebe suas determinações, elas são para ele um complemento necessário, ele tende para a vida social como para seu estado de equilíbrio.
Nos parece que Wallon considera que a escola é uma oficina de relacionamentos, exige do sujeito: sentimentos, modos de relacionar-se com a cultura, com as pessoas, com os conhecimentos.
Nesse sentido Bakhtin, traz suas ideias sobre linguagem enfatizando que a linguagem é um instrumento formador da consciência. A circulação da palavra é um diálogo de muitas vozes. A linguagem vai regulando o sujeito, essa regulamentação, afeta a realidade material, as relações entre os sujeitos, o jeito de viver, ser e pensar.
Sem querer ser prescritiva, é preciso romper com os modelos estabelecidos, o professor deve atuar como colaborador, mediador de construções do conhecimento. Na interação aluno-professor, esta ação: se dá mais no sentido de introduzir o aluno no universo cultural e tecnológico de sua sociedade, no uso eficaz e adequado das opções que as tecnologias oferecem, confiando em sua competência para ensinar e naquela competência dos alunos, para se apropriarem do conhecimento já elaborado. Davis e Oliveira (1997 :89)
A visão interacionista do desenvolvimento, contribui com a prática pedagógica no sentido de entender a construção e elaboração do pensamento do aluno a partir da formação de conceitos, conhecimentos, habilidades e significação mediados pelo professor, que organiza situações de aprendizagem. A construção de uma rede de interações professor/ aluno, aluno /alunos, passa por comportamentos como: perguntar, expor, incentivar, escutar, coordenar e participar de debates. Atuando em diferentes oportunidades pedagógicas e em diferentes modos de expressão oral, escrita, gráficos, expressões corporais etc.,
As diferentes linguagens: verbal, visual, sonora, tátil ou de movimento dá sustentação ao desenvolvimento cognitivo fundamentam determinados padrões de ação e reação que permitem a convivência entre os indivíduos ampliando as possibilidades de aprender.
Outro ponto importante é, por que avaliar? O que a pessoa com Síndrome de Down é capaz de aprender? É possível que domine e vença os desafios das tecnologias que o mundo oferece: A ideia de avaliação deve traduzir: ajuda, para descobrir potencialidades e minimizar as dificuldades. Uma avaliação é elaborada a partir de habilidades desenvolvidas ou em desenvolvimento, competência adquirida ou por adquirir, de acordo com a etapa do desenvolvimento integral de quem está sendo avaliado. Sem ideias pré-concebidas….
As dimensões da construção de um rol de competências, para elencar as necessidades, devem partir de um bom instrumento, baseado em princípios científicos e contextuais, aplicados em condições otimizadoras com tempo suficiente para estabelecer boas relações pessoais entre avaliador e avaliado.
Organizar um perfil de Habilidades Básicas para Alfabetização, Rodrigues (2000), resulta num bom referencial para avaliar e intervir nos processos de aprendizagem, não só das Pessoas com deficiência como de uma pessoa considerada normal.
Sensibilizar a escola enquanto papel social, tanto no sentido de tolerância como também do pensamento educacional de inclusão, é outro ponto que deve ser considerado. Fonseca (1997 :126) diz que: uma em cada cinco crianças precisam de apoio pedagógico especial, a escola não pode ignorar isso.
Finalizando, não se dispensa o papel dos pais, no sentido de organizar o ambiente familiar da Pessoa com deficiência na perspectiva de minimizar os problemas, ir introduzindo no desafiante mundo da tecnologia no cotidiano da vida social, evitando que por um processo de superproteção ou rejeição, surgirem outras deficiências.
Profa Dra Janine Marta Coelho Rodrigues. Pós-doutora em Educação. Professora e pesquisadora da UFPB/CE/PPGE. Autora do livro “Pessoas com Síndrome de Down. Uma reflexão para pais e professores” (Wak Editora).