O Dia Mundial de Conscientização do Autismo, que acontece no dia 2 de abril, foi criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 2007, com o propósito de desmistificar o Transtorno do Espectro Autista para a população em geral, na tentativa de redução do preconceito e isolamento que até hoje ainda cercam as pessoas neurodivergentes.

Em abril, além da promoção de eventos e palestras sobre o assunto, muitos países iluminam seus pontos turísticos de azul, a cor que representa o autismo. Segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), em cada 1 caso de sexo feminino diagnosticado, temos 4 casos de sexo masculino.  Esta cor é considerada como referência a este gênero, por uma convenção social, iniciada em 1920.

A imagem abaixo apresenta os principais símbolos estabelecidos para representar o autismo, elaborados por Aline Bittencourt.


O símbolo do “quebra-cabeça” é um dos símbolos mais conhecidos do autismo. Ele foi criado em 1963 pela Autism Society e popularizado pela Autism Speaks. Pesquisas mostram que a comunidade autista vem criticando o uso desse símbolo do quebra-cabeça para lhe representar, pois os coloca como sendo pessoas que são difíceis de serem compreendidas.

Diante disso, o logotipo da neurodiversidade vem sendo o símbolo mais aceito pela comunidade autista, que pode ser descrito como um sinal do infinito nas cores do arco-íris. No entanto, não podemos deixar de citar o colar de girassol, que é um símbolo internacional com o objetivo de identificar pessoas que possuem alguma condição “invisível”, ou seja, condições específicas que não podem ser percebidas à primeira vista, como também é o caso do autismo.

De acordo com a Lei 14.624/2023, ele simboliza as “deficiências ocultas” e tem por objetivo facilitar o suporte a todos. Se o TEA (Transtorno do Espectro Autista) não se enquadra nessa classificação, a Lei 12.764/2012 também conhecida por Lei Berenice Piana, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, considera a pessoa com TEA como uma pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais.

O TEA não é uma deficiência, e sim, um transtorno do neurodesenvolvimento, o que pode ser definido como um grupo de transtornos observáveis desde o início do desenvolvimento do indivíduo, e em muitos casos, antes mesmo do início da idade escolar.  Com isso, os sujeitos com TEA passam a ter direitos igualitários aos garantidos pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei 13.146/15; como as normas estabelecidas pela Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (6.949/2000).

No que diz respeito ao ensino, é também, a partir da Lei Berenice Piana, (2012) que os estudantes com TEA tornam-se público da Educação Especial, ou seja, passam a possuir direitos garantidos por lei ao Atendimento Educacional Especializado (AEE), descrito pelo Decreto 7611/2011.

O Transtorno do Espectro Autista pode variar em até 3 níveis, que está ligado ao suporte que esse sujeito necessitará ao longo da vida. De acordo com o DSM-5 (2014), os critérios diagnósticos para TEA são:

·       A) Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos;

·       B) Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades.

Sobre como, no espaço escolar, receber os alunos com TEA, quando alguém vai na nossa casa para, por exemplo, um jantar, é comum pesquisarmos o gosto dessa pessoa, e depois pensamos no que fazer. Com uma criança com TEA, seria um ótimo conversar com a família antes do início do ano letivo, trazer o aluno antes da turma para que ele já se familiarize com o espaço.

Essas dicas fazem parte da trajetória que deve orientar o trabalho pedagógico da instituição escolar, que é favorecer a antecipação, no que for possível, para os sujeitos com TEA. Além da antecipação sobre o espaço de estudo, outra dica seria conversar com essa família sobre qual seria a preferência, ou seja, seus gostos, objetos, desenhos animados preferidos, brinquedos, números, assuntos entre outros. Quando falamos em preferências, estamos falando em hiperfoco.

O que é hiperfoco?

Hiperfoco pode ser compreendido como forma intensa de concentração em algum assunto, desenho, tarefa, uma característica comum em pessoas com TEA, que tem relação com os padrões repetitivos e restritivos de comportamento. O uso no ambiente escolar pode auxiliar no desenvolvimento de novas habilidades, novas aprendizagens e adaptação, como por exemplo: ao conversar com a família do João (nome fictício), sujeito com TEA, a professora descobriu que ele possui hiperfoco em baleias, e no primeiro dia trouxe uma história sobre baleias, usou atividades com baleias para facilitar a interação social com os outros colegas e amenizar o desconforto de um ambiente novo.

Cabe ressaltar, que o hiperfoco não deve ser usado para manter o aluno isolado do contexto escolar, anulando-o de oportunidades ou de novas experiências. Outro ponto de atenção é que o hiperfoco é um começo de um vínculo, um desenvolvimento de habilidades, e que a partir deste, deve-se ampliar o leque de opções ao aluno, como por exemplo, novamente, a partir do gosto de João por baleias, posso conhecer o ambiente marítimo, depois as regiões em que estes ocupam, favorecendo que novas oportunidades surjam.

Apresentar o espaço ao aluno antecipadamente, como citado acima, tem relação com previsibilidade, possui relação com os padrões restritos e repetitivos e por isso necessitam tanto da rotina para se regularem. Essa previsibilidade pode ser dada, se possível identificando os espaços com uso dos símbolos de CAA (Comunicação Alternativa Aumentativa), com uma rotina visual, realizada ao iniciar o dia, antecipar com uma conversa sobre o que vai acontecer naquele dia, antecipação de um passeio, ou até mesmo de uma mudança na rotina.

As funções executivas (FE) são caracterizadas por processos cognitivos e metacognitivos com o qual o indivíduo poderá resolver situações-problema mais complexas. As três principais funções executivas com base na cognição são controle inibitório, memória de trabalho e flexibilidade cognitiva.

CONTROLE INIBITÓRIO

MEMÓRIA DE TRABALHO

FLEXIBILIDADE COGNITIVA

Capacidade de inibir um comportamento; parar e pensar antes de agir; controlar impulsos.

Capacidade de manter e manipular informações mentalmente.

Capacidade de mudar o foco atencional; alternar entre tarefas e focos; adaptar-se às demandas do ambiente

A estimulação da função executiva pode ser feita em sala de aula, mas também pelos familiares e/ou responsáveis.

Atividades que podem estimular as funções executivas:

·       Cantigas de roda;

·    Jogos de imitação, e também quando pedimos a criança que alterne turnos, ou seja, o que conhecemos como “minha vez”, agora “sua vez”;

·       Jogos de carta como UNO; Super trunfo; Halli Galli e outros;

·       Jogos que envolvam uma inibição ativa: Vivo ou Morto; estátua.

·       História acumulativas;

·       Quebra-cabeças simples;

·       Brincadeiras que com inibição da voz;

·       Jogos de lógica e raciocínio lógico;

·       Jogos de figura-fundo;

·       Atividades de classificação;

·       Organização dos materiais;

·       Atividade de auxílio na dinâmica da casa, como colocar uma mesa e pegar utensílios solicitados.

Importante

1-As atividades necessitam partir do que eu faço hoje, com auxílio, para que amanhã eu realize com autonomia. Assim é necessário dar ordens simples com divisão de etapas. Exemplo: “Peguem o livro de Matemática e abram na página 35”. Caso o aluno não consiga realizar todo o comando de uma única vez, tente assim: “Pegue o livro de Matemática; agora vamos abri-lo na página 35”. O comando deve ser realizado oralmente e acrescentar, também, a escrita ao quadro.

2- Evite a poluição dos ambientes com muitos estímulos. Pode causar uma sobrecarga sensorial nos estudantes com TEA;

3- Use uma linguagem objetiva e clara;

4- Utilize esquemas, textos, fichas para facilitar a compreensão de TODOS;

5- Questões comportamentais não devem ser generalizadas, pois o autista pode compreender que só deve agir de tal forma naquele local, ou naquela sala de aula;

6- Pergunte ao estudante qual a melhor forma para compreensão dos comandos e da matéria.

A inclusão é uma responsabilidade dos educadores, famílias, gestores e a sociedade como um todo, desempenhando papéis essenciais nesse processo. Ao colaborarmos, podemos criar um ambiente educacional que valoriza a diversidade, o protagonismo do estudante e promove a equidade e acolhe o estudante, respeitando sua individualidade.

Aline Bittencourt. Pedagoga com pós-graduação em Psicopedagogia. Mestre em Educação e Doutora em Ensino em Biociências.

Rosane Meirelles. Bióloga, Mestre e Doutora em Biologia Celular e Molecular.

São autoras do livro “Autismo e Ciências – O protagonismo de estudantes com TEA” (Wak Editora – 2024). 

Informações

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